Poema do Gato
Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?
Sempre que pode
foge prá rua,
cheira o passeio
e volta pra trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva desesperada.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.
Quando abro a porta corre pra mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase,
ronronando.
Repito a festa,
vagarosamente.
Do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas.
E rosna. Rosna, deliquescente,
abraça-me e adormece.
Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?
António Gedeão
foto minha
21 comentários:
É mesmo assim, minha boa amiga. Tenho cá em caso um desses, preto e luzidio, enorme pantera se não fosse tão gordo. Quem lhe abrirá a porta? Os meus filhos hão-de lhe abrir a porta se o danado do bicho tiver a sorte de viver mais do que eu! Julgo que até nisso há grande importância de ensinar as crianças a conviver com os animais. Hoje em dia a maior parte dos adultos não permite que as crianças tenham um animal de estimação. Por isso há por aí tantas crianças que entram em pânico perante um gato ou um cão, que são melhores do que muitas pessoas.
Às vezes digo: este gato é quem gosta mais de mim cá em casa, e não é totalmente falso pela sua afeição (interesseira nas festas?)
Voltarei, de tarde, com palavras para o bichano. Eu adoro-os.
Bjinhos, miga!
Quando tinha 7 anos, encontrei uma gatinha ainda de olhos fechados presa numa roseira nas traseiras da minha casa. A mãe não tinha conseguido soltar a bichinha e fora-se embora.
Tirei-a dali, dei-lhe leite com um conta-gotas, limpei-a com um algodão, tirei-lhe as remelas e já ninguém conseguiu afastar-me da minha Pantufa... dormia comigo, via tv comigo, quando eu estava triste e chorava, a minha Pantufa punha a patinha na minha mão e podia jurar que era ela que me fazia festas. Não tinha diário como as minhas amigas, mas curiosamente lembro-me de contar tudo à minha gata...
Dizem que os gatos têm amor à casa onde vivem e não às pessoas, ao contrário dos cães, mas não acho que seja verdade...pelo menos, a minha Pantufa adorava-me e eu a ela...
A única vez que saiu do quintal, já depois de velhinha, foi atropelada, mas veio a arrastar-se para morrer nos meus braços. Ainda hoje tenho saudades dela.
Beijinhos
QUERIDA AMIGA, BELAS PALAVRAS PARA COM O TEU AMIGUINHO GATO... NO FIM FAZES UMA PERGUNTA BEM PERTINENTE... QUEM ABRIRÁ A PORTA PARA ELE???
UM GRANDE ABRAÇO DE CARINHO,
FERNANDINHA
Muito bem escrevia este nosso colega de profissão e poeta maior para nosso deleite e felicidade sua.
E ainda há quem conheça apenas a Pedra Filosofal... Ó país que desperdiças assim os teus parcos talentos!
Um abraço, Esperança.
Kaotica
Esta fotografia foi captada ontem à tarde numa construção aqui ao pé de mim. O gato dormitava ao sol refasteladamente dentro do balde. Sei quem são os donos e também sei o pouco que lhe ligam. Certamente que ele sabe que um dia não lhe abrirão a porta, como já o fazem bastas vezes. Mas o bichano é carinhoso e pacífico.
Sei que hoje em dia, viver em apartamentos é um impeditivo a ter-se um animal de estimação, deve ser por isso que alguns adultos não dão esse gosto aos miúdos. E é como diz, alguns entram em pânico mal vêem um gato ou um cão.
Mas ter um animal destes é uma lição viva de lealdade e afeição.
Um abraço
Esperança
Cata-Vento
Cá estarei para ler as tuas palavras ao bichano.
bjinhos
Esperança
Ana Lagartinha
Todos os que tiveram animais de estimação têm saudades deles. Ainda hoje me comovo quando vejo as fotografias do meu "boy", do "leão",do "tomix", do "falcão" e do "kimba". Foram os meus amigos cães que tive, todos com a sua história, todos com características difirentes, mas todos com o mesmo grau de lealdade e afeição.
bjinhos
Esperança
Fernandinha
A pergunta é o poeta que a faz, mas eu subscrevo-a inteiramente.
bjinhos
Esperança
Jorge
As palavras de Gedeão enchem -me as medidas na medida em que me falam de coisas concretas, de vivências. Tenho aqui mais umas palavras dele e, sinceramente, embora goste, não é a pedra filosofal.
Um abraço
Esperança
Faço minhas aqui um pouco de suas palavras: " Eu não tenho gato, mas se o tivesse quem lhe abriria a porta quando eu morresse? " Eu me pergunto também, quem ? conseguiu me emocionar pois relacionei suas palavras com situações da vida.
Abraços Fraternos, e obrigado por compartilhar tão belo escrito.
Marcos
Marcos
Também penso muito que um dia quando eu partir, quem abrirá a porta àqueles que amo.
São reflexões normais, não?
Tudo de bom para si
Um abraço
Esperança
Paaso e deixo um abraço domingueiro.
Tudo de bom!
Todos gostamos de colo, de carícias e os gatos não são excepção. Gosto muito de animais, são gratos e ternurentos.
Bjinhos miga querida
Bom Domingo!
Boa Pergunta ...
Acho que todos nós temos essa duvida ...!
Bjks da M&M & Cª!
Jorge
O domingo já está no fim mas espero que também tenha sido bom para si.Obrigada.
Um abraço
Esperança
Que este domingo também tenha sido para ti, Cata-Vento! Obrigada.
bjinhos
Esperança
Miguel
Acho que sim, todos nos perguntamos isso.
Que o domingo tenha sido bom de brincadeiras com a Matilde & Cª.
Um abraço
Esperança
Não conhecia este poema.
A saúde debilitada de meus pais, ele internado no hospital onde foi amputado a uma perna, ela em casa, mas totalmente dependente, teem-me impedido de visitar os amigos virtuais e reais.
Um abraço e uma boa semana
Elvira
As melhoras dos seus pais são prioritárias. As visitas virtuais podem esperar.
bjs
Esperança
Muito bem fotografada! Cores harmoniosas e bonitas. As palavras... o que direi?
Os meus parabéns! Recebe um abraço das ilhas de bruma.
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