quarta-feira, 23 de junho de 2010

São João

Ó meu rico São João,

Vira a cara para o lado,

Já me queimei na fogueira,

Não cumpri o combinado.

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Jurei saltar a fogueira

E meus pecados limpar.

São João, já fiz asneira,

E, assim, não posso casar.

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São coisas de antigamente,

E já ninguém quer saber!

Mas São João será sempre,

para bailar e beber.

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Duo Ouro Negro, Maria Rita

Quadras minhas

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago (1922-2010)

José Saramago por António

Retrato do Poeta Quando Jovem

Há na memória um rio onde navegam

Os barcos da infância, em arcadas

De ramos inquietos que despregam

Sobre as águas as folhas recurvadas.


Há um bater de remos compassado

No silêncio da lisa madrugada,

Ondas brancas se afastam para o lado

Com o rumor da seda amarrotada.


Há um nascer do sol no sítio exacto,

À hora que mais conta duma vida,

Um acordar dos olhos e do tacto,

Um ansiar de sede inextinguida.


Há um retrato de água e de quebranto

Que do fundo rompeu desta memória,

E tudo quanto é rio abre no canto

Que conta do retrato a velha história.

José Saramago

sábado, 12 de junho de 2010

O Zé Povinho



O Zé Povinho comemora 135 anos! E o seu gesto continua tão propositado como na altura em que foi criado por Rafael Bordalo Pinheiro. Então nestes últimos meses, creio bem que o Zé nunca teve tempo de descansar os braços. Coitado, deve estar cheio de artroses nos cotovelos!


Esta semana lá tivemos mais uma comemoração do 10 de Junho. Descentralizada, como convém, com a novidade de um desfile militar encabeçado por ex-combatentes , conveniente a algumas consciências com passados mal resolvidos e presentes cheios de desculpas. Mais umas fitas e medalhas que, com honrosas excepções, vão enfeitar as salas e os pechichés de uns quantos pavões sem obra mas que, pelos vistos, engrandeceram esta pátria à deriva de sonhos e de escolhos.


Nesta semana, também, deu-se o tiro de partida para duas grandes festas. Primeiro, para o Mundial de futebol. Delírio supremo do desporto de bola, onde a nossa selecção vai procurar um lugar ao sol, que em África há em abundância. Se calhar, muito foguete antes da festa, bem à portuguesa, este ano com o acréscimo do som das vuvuzelas, que prometem embezourar a cabeça de adeptos e jogadores. Segunda festa, a dos Santos Populares. Esta sim, bem nossa. Começa pelo Santo António, que em Lisboa dá brado. Passa depois ao Porto, onde o São João brilha mais com as luzes na Ponte. O São Pedro tem festejos em muitas localidades, a fechar com chave de ouro.

Bem que precisamos de animação! Não daquela que nos faz andar numa fona, com gripes, vacinas, crises, taxas de juro, impostos e quejandos a driblar processos, escutas, disse, não disse, vendo, não vendo, acaba, não acaba, sabia, não sabia. Uff!! Não, não é desta animação que falo. É da outra, daquela que nos faz esquecer tudo, que nos faz sentir crianças - dê-me um tostãozinho para o santinho!- que nos faz rir, estar com os amigos, cantar e dançar até ser dia. Estamos precisados de um intervalo - o programa segue dentro de momentos- que nos poupe a cabeça de ideias estapafúrdias e calamitosas.


Vamos, pois, ver o futebol, comer uma sardinhada, dar um pézinho de dança, e pode ser que desta vez o Zé Povinho possa engrandecer a Pátria e para o ano seja condecorado no 10 de Junho.


Ó meu rico Santo António
Vê se à crise dás um jeito
Traz também a dignidade
E um pouco de respeito


São João, tu és um Santo
Bem português e só nosso
Não deixes que eles nos comam
desde a carne até ao osso


São Pedro das brancas barbas
empresta sabedoria
aos que inventam à noite
p'ra mandar fazer de dia

Quadras da minha autoria e imagns da net