A língua portuguesa é rica em expressões idiomáticas. Trago aqui algumas.Andar à toa
Significado:
Andar sem destino, despreocupado, passando o tempo.
Origem: Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está “à toa” é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar.
Coisas do arco-da-velha Significado:
Coisas inacreditáveis, absurdas, espantosas, inverosímeis.
Origem: A expressão tem origem no Antigo Testamento; arco-da-velha é o arco-íris, ou arco-celeste, e foi o sinal do pacto que Deus fez com Noé: "Estando o arco nas nuvens, Eu ao vê-lo recordar-Me-ei da aliança eterna concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na terra." (Génesis 9:16)
Arco-da-velha é uma simplificação de Arco da Lei Velha, uma referência à Lei Divina.
Há também diversas histórias populares que defendem outra origem da expressão, como a da existência de uma velha no arco-íris, sendo a curvatura do arco a curvatura das costas provocada pela velhice, ou devido a uma das propriedades mágicas do arco-íris - beber a água num lugar e enviá-la para outro, pelo que velha poderá ter vindo do italiano bere (beber).
Cair da tripeça
Significado:
Qualquer coisa que, dada a sua velhice, se desconjunta facilmente.
Origem: A tripeça é um banco de madeira de três pés, muito usado na província, sobretudo junto às lareiras. Uma pessoa de avançada idade aí sentada, com o calor do fogo, facilmente adormece e tomba.
Dar um lamiré Significado:
Sinal para começar alguma coisa.
Origem: Trata-se da forma aglutinada da expressão «lá, mi, ré», que designa o diapasão, instrumento usado na afinação de instrumentos ou vozes; a partir deste significado, a expressão foi-se fixando como palavra autónoma com significação própria, designando qualquer sinal que começo a uma actividade dê. Historicamente, a expressão «dar um lamiré» está, portanto, ligada à música (cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
Embandeirar em arcoSignificado:
Manifestação efusiva de alegria.
Origem: Na Marinha, em dias de gala ou simplesmente festivos, os navios embandeiram em arco, isto é, içam pelas adriças ou cabos (vergueiros) de embandeiramento galhardetes, bandeiras e cometas quase até ao topo dos mastros, indo um dos seus extremos para a proa e outro para a popa. Assim são assinalados esses dias de regozijo ou se saúdam outros barcos que se manifestam da mesma forma.
Erro Crasso
Significado:
Erro grosseiroOrigem: Na Roma antiga havia o Triunvirato: o poder dos generais era dividido por três pessoas.
No primeiro destes Triunviratos, tínhamos: Caio Júlio, Pompeu e Crasso. Este último foi incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos.
Confiante na vitória, resolveu abandonar todas as formações e técnicas romanas e simplesmente atacar. Ainda por cima, escolheu um caminho estreito e de pouca visibilidade.
Os Partos, mesmo em menor número, conseguiram vencer os romanos, sendo o general que liderava as tropas um dos primeiros a cair. Desde então, sempre que alguém tem tudo para acertar, mas comete um erro estúpido, dizemos tratar-se de um "erro crasso".
Fazer tábua rasaSignificado:
Esquecer completamente um assunto para recomeçar em novas bases.Origem: A tabula rasa , no latim, correspondia a uma tabuinha de cera onde nada estava escrito.
A expressão foi tirada, pelos empiristas, de Aristóteles, para assim chamarem ao estado do espírito que, antes de qualquer experiência, estaria, em sua opinião, completamente vazio. Também John Locke (1632 1704), pensador inglês, em oposição a Leibniz e Descartes, partidários do inatísmo, afirmava que o homem não tem nem ideias nem princípios inatos, mas sim que os extrai da vida, da experiência.
«Ao começo», dizia Locke, «a nossa alma é como uma tábua rasa, limpa de qualquer letra e sem ideia nenhuma.
Tabula rasa in qua nihil scriptum . Como adquire, então, as ideias? Muito simplesmente pela experiência.»
Fazer tijoloSignificado:
Morrer.
Origem: Segundo se diz, existiu um velho cemitério mouro para as bandas das Olarias, Bombarda e Forno do Tijolo.
O almacávar, isto é, o cemitério mourisco, alastrava-se numa grande extensão por toda a encosta, lavado de ar e coberto de arvoredo.
Após o terramoto de 1755, começando a reedificação da cidade, o barro era pouco para as construções e daí aproveitar-se todo o que aparecesse.
O cemitério árabe foi tão amplamente explorado que, de mistura com a excelente terra argilosa, iam também as ossadas para fazer tijolo.
Assim, é frequente ouvir-se a expressão popular em frases como esta: “Daqui a dez anos já eu estou a fazer tijolo”.
in ‘Dicionário de Expressões Correntes’, Orlando Neves
Mal e porcamenteSignificado:
Muito mal; de modo muito imperfeito.
Origem: «Inicialmente, a expressão era "mal e parcamente". Quem fazia alguma coisa assim, agia mal e eficientemente, com parcos (poucos) recursos.
Como parcamente não era palavra de amplo conhecimento, o uso popular tratou de substituí-la por outra, parecida, bastante conhecida e adequada ao que se pretendia dizer. E ficou " mal e porcamente", sob protesto suíno.»1
1 in A Casa da Mãe Joana, de Reinaldo Pimenta, vol. 1 (Editora Campus, Rio de Janeiro)
Ter para os alfinetes Significado:
Ter dinheiro para viver.
Origem: Em outros tempos, os alfinetes eram objecto de adorno das mulheres e daí que, então, a frase significasse o dinheiro poupado para a sua compra porque os alfinetes eram um produto caro.
Os anos passaram e eles tornaram-se utensílios, já não apenas de enfeite, mas utilitários e acessíveis.
Todavia, a expressão chegou a ser acolhida em textos legais. Por exemplo, o Código Civil Português, aprovado por Carta de Lei de Julho de 1867, por D. Luís, dito da autoria do Visconde de Seabra, vigente em grande parte até ao Código Civil actual, incluía um artigo, o 1104, que dizia: «A mulher não pode privar o marido, por convenção antenupcial, da administração dos bens do casal; mas pode reservar para si o direito de receber, a título de alfinetes, uma parte do rendimento dos seus bens, e dispor dela livremente, contanto que não exceda a terça dos ditos rendimentos líquidos.»
Do Tempo da Maria CachuchaSignificado:
Muito antigo.
Origem: A cachucha era uma dança espanhola a três tempos, em que o dançarino, ao som das castanholas, começava a dança num movimento moderado, que ia acelerando, até terminar num vivo volteio.Esta dança teve uma certa voga em França, quando uma célebre dançarina, Fanny Elssler, a dançou na Ópera de Paris.
Em Portugal, a popular cantiga Maria Cachucha (ao som da qual, no séc. XIX, era usual as pessoas do povo dançarem) era uma adaptação da cachucha espanhola, com uma letra bastante gracejadora, zombeteira.
fonte: recebido por e-mail