quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Nobel das notícias

Arranca ou não arranca? Quero crer que sim. Vendo bem, material não falta. Desde o bicho que entrou na madeira sem que se notasse e agora, retalhado que está o móvel, não há dinheiro para o conserto, até ao concerto gigante da pedra no rio, onde as nossas melhores vozes, embora que muito apreciadas no momento, são inteiramente desconhecidas do povão do lado de lá! Bendita irmandade, tanto num caso como no outro. Nem o continente é salvação para uns, nem os dois continentes efetivam a tal cultura pluri que floreiam os discursos das chefias quando se encontram. Enfim! Adiante. 
Oiço de relance as notícias de um qualquer telejornal (são as mesmas, com alinhamentos e tudo) e arranha-me os ouvidos a defesa daquela mãe que abandonou o rebento, mas afinal até é muito boa mãe, tão cuidadosa que lhe deu um rebate de consciência e quer o rebento de volta.Ponto final. Os rebentos assumiram definitivamente a sua condição de toysareus e ora vão para a prateleira, ora saem da prateleira.... Céus! se isto não é o fim dos tempos, não sei que diga.
E agora que falei, ainda que discretamente, de dignidade, acudiu-me à mente uma outra notícia que também não deixa qualquer margem para uma reflexão digna, tamanho é o espanto. Ora aqui vai: um miúdo português, esforçado e aplicado ganha uma medalha num concurso que requer altos QI's e deixa o país com o ego puxado cá para cima. Quando quer entrar para a universidade, não entra por umas mísera décimas. A medalha perdeu o significado. O grave é que dias depois, em fases desfasadas da exigência entram alguns com menos qualificação. O medalhado perdeu o significado da palavra justiça. Ele sempre há coisas para lá do sobrenatural, palavra aqui empregue no sentido mais puro - acima do que é próprio da natureza. Outro ponto final.
E por falar em natural, a Academia Sueca premiou um natural...daquele país. O Nobel da Literatura vai para um quase desconhecido em outras paragens que não a sua. Numa breve pesquisa dei com um poema traduzido no Brasil. Vou lê-lo muito atentamente e tentar descobrir dignidades e significados.

Poemas haikai - Tomas Tranströmer


Os fios elétricos
estendidos por onde o frio reina
Ao norte de toda música.

O sol branco
treina correndo solitário para
a montanha azul da morte.

Temos que viver
com a relva pequena
e o riso dos porões

Agora o sol se deita.
sombras se levantam gigantescas.
Logo logo tudo é sombra.

As orquídeas.
Petroleiros passam deslizando.
É lua cheia.

Fortalezas medievais,
cidades desconhecidas, esfinges frias,
arenas vazias.

As folhas cochicham:
Um javali está tocando órgão.
E os sinos batem.

E a noite se desloca
de leste para oeste
na velocidade da lua.

Duas libélulas
agarradas uma na outra
passam e se vão

Presença de Deus.
No túnel do canto do pássaro
uma porta fechada se abre.

Carvalhos e a lua.
Luz e imagem de estrelas salientes.
O mar gelado.”

Trdução de Marta Manhães de Andrade