DA INFLUÊNCIA DA LUA
Outono. O Sol, qual brigue em chamas, morre
Nos longes d'água... Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poesia escorre
E os bardos, a cismar, molham a pena!
Ao longe, os rios de águas prateadas
Por entre os verdes canaviais, esguios,
São como estradas líquidas, e as estradas,
Ao luar, parecem verdadeiros rios!
Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos,
O xale pedem a quem vai passando...
E nos seus leitos nupciais, os ninhos,
As lavandiscas noivam piando, piando!
O orvalho cai do Céu, como um unguento.
Abrem as bocas, aparando-o, os goivos;
E a laranjeira, aos repelões do Vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.
E o orvalho cai... E, à falta d'água, rega
O vale sem fruto, a terra árida e nua!
E o Padre Oceano, lá de longe, prega
O seu Sermão de Lágrimas, à Lua!
A Lua! Ela não tarda aí, espera!
António Nobre, Só
fotografia: o escriba
10 comentários:
Excelente, presentinho este , Esperança. Gosto de poesia, este mundo onírico onde me embrenho algumas noites, não estas , as que acompanham a entrada do Outono , que vêm acompanhadas de uma nostalgia que me arrefece a alma e eu preciso das outras, com fragrância de Verão ou de Primavera. No entanto, reli o poema, que é de uma beleza que me sensibiliza pelos recursos expressivos, em que é tão rico, e pelas imagens que se formam no meu imaginário. Fizeste-me regressar ao meu canto serrano onde as árvores, os passarinhos, o orvalho, entre outros, são companheiros fiéis.
Beijinhos
Belíssima escolha, Esperança!
Um retrato do Outono com as cores que lhe pertencem.
Muito bom gosto poético!
Um abraço para si.
Chegou sim srª ...
Em todos os sentidos ...!
Bjks da M&M & Cª!
Isabel
Amiga, fico feliz por te sentires no teu canto serrano ao leres o poema que escolhi para o outono, apesar da tua alma requerer o sol quente do verão ou as brisas da primavera.
Eu, que fui criada no frio e no vento, gosto do outono. Sinto a alma lavada com o cheiro da terra molhada das primeiras chuvas.
bjinhos
Esperança
Jorge
Obrigada pelas suas palavras!
Gosto da poesia de António Nobre, pela sinceridade e pela proximidade com as coisas simples que o rodeavam.
Um abraço
Esperança
Miguel
É verdade, estamos no outono em todos os sentidos: no outono das atitudes, no outono das condições de trabalho e de vida e até no outono das ideias.
bjs
Esperança
O poeta da melancolia...
Obrigado pela partilha.
Não conhecia este.
Vieira Calado
É o poeta da melancolia, ele que não passou da primavera da vida!
Obrigada pela visita.
Um abraço
Esperança
Desejo que se encontre bem de saúde, Esperança, ou de que o seu computador não tenha voltado a dar-lhe arrelias.
Um abraço e uma boa semana para si.Jorge P.G.
Jorge
Felizmente estou bem de saúde e o "bicharoco" anda na linha, só que não tenho tido muito tempo livre para postar. Sabe como é, na escola anda-se afogada em papel mais as diagnoses, mais as actas das reuniões iniciais... enfim, divertimentos que só visto!
Obrigada pela sua consideração!
Um grande abraço
Esperança
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