Na passagem dos 90 anos sobre a sua morte, recordo aqui o grande poeta olhanense João Lúcio.
Nascido em Olhão em 4 de Julho de 1880, numa família abastada e culta, onde já outro nome, o pintor Henrique Pousão, brilhava nas artes, evidenciou desde cedo talento para a escrita.
Estudou Direito em Coimbra , privando aí com outros grandes das letras portuguesas como Afonso Lopes Vieira, Augusto de Castro, Teixeira de Pascoaes e Manuel Teixeira Gomes.
Exerceu advocacia em Olhão, salientando-se pelo seu profissionalismo, viva inteligência e palavra fácil. Os seus dotes de magnífico orador granjearam-lhe o respeito e a admiração nos meios políticos, tendo sido deputado da Nação e presidente da Câmara de Olhão.
João Lúcio foi um poeta naturalista, romântico e sonhador.
Ainda em Coimbra publica “Descendo” (1901), cujos versos resultam numa incursão pela luz, perspectivando a descoberta da claridade.
Grande apaixonado pelo Algarve escreve a sua obra poética mais conhecida - "O Meu Algarve" (1905) -, onde hiperboliza a luz, as cores, a terra e o mar do seu Algarve. António José Saraiva e Óscar Lopes em "A História da Literatura" referem-se ao poeta como um António Nobre algarvio, «pelo seu exuberante gosto da cor e mitologia popular»
Publica ainda "Na Asa do Sonho" (1913), uma ode à capacidade humana de sonhar para fugir à realidade, e mais tarde, "Impressões de viagens" e "Vento de Levante". "Espalhando fantasmas" (1921), foi publicado postumamente.
Cerca de 1916 mandou construir no pinhal da sua quinta de Marim, local rico de lendas sobre mouras encantadas , perto de Olhão, um Chalet, com o objectivo de alcançar o isolamento espiritual que tanto necessitava depois da tragédia pessoal da perda do filho.
Esta moradia, pelo seu exotismo, é considerada como um exemplo máximo da arquitectura simbolista em Portugal (existe apenas outro exemplar nacional: a Quinta da Regaleira, em Sintra). É um edifício com três pisos, de forma quadrangular, sem frente nem traseiras, com quatro escadarias de acesso que marcam as entradas para o centro da casa, rematado com uma clarabóia. A escadaria a Norte tem forma de peixe; a Sul, de guitarra; a Nascente, de violino; a Poente, de serpente. Simbolicamente, o peixe representa a água mas, ao contrário do que seria de esperar, está virada para o Norte (continental); a guitarra simboliza o fogo e, também ao contrário do que seria de esperar, está virada para o Sul (líquido); o violino simboliza o ar mas está virada para o fogo do Sol (nascente); a serpente simboliza a terra e a realidade, pelo que está voltada para a urbe de Olhão.
Nascido em Olhão em 4 de Julho de 1880, numa família abastada e culta, onde já outro nome, o pintor Henrique Pousão, brilhava nas artes, evidenciou desde cedo talento para a escrita.
Estudou Direito em Coimbra , privando aí com outros grandes das letras portuguesas como Afonso Lopes Vieira, Augusto de Castro, Teixeira de Pascoaes e Manuel Teixeira Gomes.
Exerceu advocacia em Olhão, salientando-se pelo seu profissionalismo, viva inteligência e palavra fácil. Os seus dotes de magnífico orador granjearam-lhe o respeito e a admiração nos meios políticos, tendo sido deputado da Nação e presidente da Câmara de Olhão.
João Lúcio foi um poeta naturalista, romântico e sonhador.
Ainda em Coimbra publica “Descendo” (1901), cujos versos resultam numa incursão pela luz, perspectivando a descoberta da claridade.
Grande apaixonado pelo Algarve escreve a sua obra poética mais conhecida - "O Meu Algarve" (1905) -, onde hiperboliza a luz, as cores, a terra e o mar do seu Algarve. António José Saraiva e Óscar Lopes em "A História da Literatura" referem-se ao poeta como um António Nobre algarvio, «pelo seu exuberante gosto da cor e mitologia popular»
Publica ainda "Na Asa do Sonho" (1913), uma ode à capacidade humana de sonhar para fugir à realidade, e mais tarde, "Impressões de viagens" e "Vento de Levante". "Espalhando fantasmas" (1921), foi publicado postumamente.
Cerca de 1916 mandou construir no pinhal da sua quinta de Marim, local rico de lendas sobre mouras encantadas , perto de Olhão, um Chalet, com o objectivo de alcançar o isolamento espiritual que tanto necessitava depois da tragédia pessoal da perda do filho.
Esta moradia, pelo seu exotismo, é considerada como um exemplo máximo da arquitectura simbolista em Portugal (existe apenas outro exemplar nacional: a Quinta da Regaleira, em Sintra). É um edifício com três pisos, de forma quadrangular, sem frente nem traseiras, com quatro escadarias de acesso que marcam as entradas para o centro da casa, rematado com uma clarabóia. A escadaria a Norte tem forma de peixe; a Sul, de guitarra; a Nascente, de violino; a Poente, de serpente. Simbolicamente, o peixe representa a água mas, ao contrário do que seria de esperar, está virada para o Norte (continental); a guitarra simboliza o fogo e, também ao contrário do que seria de esperar, está virada para o Sul (líquido); o violino simboliza o ar mas está virada para o fogo do Sol (nascente); a serpente simboliza a terra e a realidade, pelo que está voltada para a urbe de Olhão.
Infelizmente, João Lúcio pouco tempo viveu nesta sua casa, pois foi vítima da gripe pneumónica , em 1918, quando tinha apenas 38 anos.
Olhão tem prestado várias homenagens a esta figura incontornável da sua cultura. O seu busto ornamenta o centro da cidade e a sua casa de Marim foi transformada em Ecoteca.
A paixão da cor
(a Manuel Teixeira Gomes)
Côr, filha da Luz, é uma língua em tons
Que falla, sem rumor, á curva da retina...
Como ha para o ouvido a palavra e os sons,
Nasceu para o olhar esta harmonia fina.
Escorre sobre o campo, empapuçando tudo
N'um brilho rumoroso, ardente de alegrias;
Palpita nos setins, ondula no velludo
E fulge encarcerada em finas pedrarias.
Em toda a parte põe a aza transparente:
No mar, nos vegetaes, nos montes, nos pallores...
No nosso sangue a Côr murmura intensamente,
Sugam-n'a p'los jardins as sequiosas flores.
Faz o scenario rubro e amplo da alvorada,
Espalha pelo Ar um pó alado e loiro,
Torna a agua do mar suave e azulada
E talha, no poente, architecturas de oiro.
Sonoramente vibra, em rubro, sobre os cactos:
Tem um ar de saudade, em roxo, nas violetas:
É meiga no azul dos lagos e regatos,
As azas de setim salpica ás borboletas.
Ululou no pincel extranho de Rembrant,
O trágico da tinta, Eschylo da pintura;
Foi triste e dolorosa em Cano e Zurbaran
E em Rubens tomou idylica frescura.
Com Velasques creou rajadas de epopea
E em Raphael foi d'uma doce grandeza;
Miguel Angelo pôz a Côr d'assombros cheia
Por forma que excedeu até a Natureza.
Murillo fel-a erguer, celeste e amoravel,
Ao lyrismo ideal da mystica doçura,
Mergulhava o pincel fino e admirável
Dentro do coração, p'ra embebel-o em ternura.
Oh Côr, que vaes correr pelas veias das flores,
Voluptuosa côr que adora o algarvio,
Que fostes muita vez, em ardentes amores,
O collo desnudar nos braços de meu tio.
E porquê? Que razão nos acorrentará
Ao teu manto brilhante, ao teu manto fulgente?!
A volúpia, talvez, que dentro de ti ha,
Minha linda pagã, sensual e ardente!
Do Livro O Meu Algarve
(foi mantida a escrita original e foram feitas supressões)
10 comentários:
Um poeta algarvio, homem ilustre na região, de que muito gosto apesar de ter deixado uma obra pequena.Tão curta lhe foi a vida.
Beijinhos
Realmente um excelente momento, adorei a lembrança e a divulgação.
Isabel
Querida Amiga, João Lúcio ainda é considerado o mais ilustre advogado que o Algarve teve!
A poesia dele, própria de uma determinada época das letras, é o maior elogio ao nosso Algarve.
bjinhos
Esperança
Tiago R Cardoso
É sempre bom recordar quem tão bem tratou a poesia. João Lúcio o Algarve e o Amor de maneira inesquecível.
Um abraço
Esperança
(Tiago, há alguma maneira de eu o contactar por email?)
Há algum tempo li num espaço amigo um artigo sobre João Lúcio e também lá estava o Chalet que me ficou na memória para um dia o visitar.
Boa divulgação.
Cumps
Que boas recordações...não a nível de literatura, mas de arquitectura. Já conhecia este nome de uma aula fabulosa de História de Arte com o Prof.Quadros. Segundo algumas interpretações, a fachada Norte significaria a expansão do conhecimento além fronteiras, a descoberta de outras ideologias sociológicas sem a interferência da comunidade piscatória, que segundo João Lúcio, seria igual em qualquer parte do mundo, desde que houvesse...mar.
bjs
O Guardião
Merece a pena ser visto. É um edifício lindíssimo e lá do alto da clarabóia tem-se uma bela perspectiva da Ria Formosa. Agora funciona lá a Ecoteca que, infelizmente, fecha aos fins de semana, o que retira a hipótese das visitas nesses dias.
Um abraço
Esperança
Ana Lagartinha
Que bom que já conhece este belo edifício, verdadeiro ex-libris de Olhão.
Espero que aí por casa já esteja tudo bem!
bjinhos
Esperança
Vim largar um beijinho e desejar um bom dia das bruxas. Já estão todos mais ou menos finos cá em casa. Obrigada
Bjs
Ana Lagartinha
Esta lagartinha verdinha tem trajes para todas as ocasiões. Espalha alegria!
Ainda bem que já está tudo recomposto!
Bom fim de semana
bjinhos
Esperança
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