Retrato do Poeta Quando Jovem
Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.
Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.
Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.
Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.
José Saramago
3 comentários:
O país homenageou o Nobel da Literatura mais do que as altas patentes do Estado que nunca conviveram bem com o seu pensamento político e religioso.
Cumps
Outras bem merecidas homenagens se hão-de seguir,
a este grande homem de letras!
Saudações poéticas
Guardião
Vieira Calado
A Obra que Saramago deixou é eterna: será sempre lembrada com luminosidade.
Os outros, se forem lembrados, serão pelas cretinices que fizeram.
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