segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Letras de Descontentamento

Quando criei este meu canto, uma das minhas intenções era fazer disto uma espécie de baú onde iria guardando as coisas de que gosto: textos meus, textos de outros, fotos minhas, fotos de outros, poemas, e outras coisas. Mas como também se deve reter aquilo que não se gosta, quanto mais não seja para servir de aviso a futuras experiências, pus em cima no cabeçalho "letras do meu descontentamento. E é isso que trago hoje. Descontentamento.
Esta campanha do Magalhães faz-me lembrar o "BigBrother" da TVI, que ninguém via, mas todos sabiam o que lá se passava. Assim é este computadorzito. Muita crítica, mas é ver os pais aflitos por não saberem onde e quando hão-de ir buscar o respectivo código de aquisição. Todos reclamam do preço dos livros, mas os pais ainda não pensaram na conta da internet que vão ter que pagar. Enfim, com tanta tecnologia, qualquer dia ainda se contratam meia dúzia de R2D2 para orientar as aulas!
Ora tanta preocupação com a evolução das aprendizagens e os "melhores" meios leva a que sejam esquecidas outras coisas. Simples, pequenas. Pormenores que depressa se transformam em "pormaiores". É aqui que entra o meu descontentamento. E estas são as letras:

"São necessários (principalmente) pijamas, para as crianças que estão no Instituto Português de Oncologia a fazer tratamentos de quimioterapia. Após os tratamentos, os pijamas ficam muito sujos e gastam-se rapidamente.Esta ideia surgiu há dois anos e hoje já é apelidada de *Movimento Pijaminha* pelo sucesso que têm tido os esforços conseguidos! As necessidades existentes passam pela falta de pijamas, pantufas, chinelos, meias, robes e fatos de treino.Para todos a vida não está fácil, mas dentro das possibilidades de cada um há sempre espaço para participar, comprando ou obtendo junto de amigos e familiares agasalhos que já não sirvam.No ano passado foram entregues 76 pijamas e o IPO ficou muito satisfeito com esta dádiva.Este ano vamos repetir o feito, e se possível ultrapassar este número."

É vergonhoso que o ministério da saúde não tenha verba suficiente para atender ao desgaste dos pijamas no IPO.

Recolhido em:
http://www.papaacordas.blogspot.com/
http://www.mariazinha62.blogspot.com/

É grande o meu descontentamento! Dão-se computadores, porque todos devem ter acesso às tecnologias (e não estarei longe da verdade se disser que, daqui a uns tempos, quando começarem as avarias, os magalhãezitos serão arrumados a um canto, qual boneco zarolho e perneta) e não se providencia o básico para quem está confinado num hospital onde a primavera da vida pode nunca mais ser verão? É grande o meu descontentamento!!!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Outono

Chegou o Outono...


DA INFLUÊNCIA DA LUA

Outono. O Sol, qual brigue em chamas, morre
Nos longes d'água... Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poesia escorre
E os bardos, a cismar, molham a pena!
Ao longe, os rios de águas prateadas
Por entre os verdes canaviais, esguios,
São como estradas líquidas, e as estradas,
Ao luar, parecem verdadeiros rios!
Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos,
O xale pedem a quem vai passando...
E nos seus leitos nupciais, os ninhos,
As lavandiscas noivam piando, piando!
O orvalho cai do Céu, como um unguento.
Abrem as bocas, aparando-o, os goivos;
E a laranjeira, aos repelões do Vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.
E o orvalho cai... E, à falta d'água, rega
O vale sem fruto, a terra árida e nua!
E o Padre Oceano, lá de longe, prega
O seu Sermão de Lágrimas, à Lua!
A Lua! Ela não tarda aí, espera!


António Nobre,

fotografia: o escriba

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Serenidade


Um dia destes, seguindo o rio de canais existente na tv cabo, desaguei num episódio de uma série tipicamente americana, onde as relações humanas são dissecadas molecularmente . Versava o dito sobre a serenidade. Como é um sentimento que muito prezo, fiquei. Até que gostei. As perspectivas individuais das personagens, fruto dos dramas que cada uma atravessa, originavam atitudes diversas. Em cada par, um exercia uma espécie de contraditório entre o que pensa e o que faz, e o outro, com serenidade, repunha a verdade da situação. Conclusão: com calma chegamos lá. Era basicamente isto. E, por ser tão simples e óbvio, gostei.
Serenidade é como o dinheiro, todos querem mas poucos têm.
Decididamente vivemos dias de exaltação. Guerras, um pouco por todo lado, despoletadas pela ganância e ambição; economias deprimidas, porque dependentes das globalizações e afins; desemprego frustrante, gerador de inseguranças; franjas sociais que nada produzem mas constituem uma espécie de sociedade só de direitos, onde grassam genes de violência gratuita; serviços de saúde que eternizam esperas ansiosas; justiça que, já de si sendo cega, está cada vez mais surda; educação desvalorizada, refém sabe-se lá de que desígnios supremos, que sonham de noite aquilo que não é exequível de dia.
Perdemos a calma todos os dias, porque de uma assentada tudo nos corre mal e parece que só acontece a nós. Curioso é que se alguém está exaltado, lá vamos nós tentar ajudar, recordando que há quem esteja pior, que se a roda desanda é melhor que deixemos rodar até ao fim, pois ela logo pára e volta a subir, enfim, aquelas coisas que também repetimos para nós próprios mas depressa as sacudimos. Às vezes conseguimos controlar a exaltação, deles e nossa. Mas é sol de pouca dura, porque “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.
Decididamente estamos muito necessitados de serenidade. Para revermos as nossas estratégias de actuação face a um mundo que há muito perdeu a inocência. Para podermos ajudar os outros com a coerência do que pensamos e do que fazemos. Para darmos uma oportunidade ao Tempo. Enfim, para desfrutar da serenidade, esse sentimento que todos prezamos.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Flávia, a Menina do Sorriso Roubado

Blogagem Colectiva para Flávia em 9/Set/2008


Flávia é uma jovem brasileira de 20 anos. Há 10 anos, quando brincava na piscina do condomínio onde morava, os seus cabelos foram sugados pelo ralo, originando uma situação de quase afogamento que a atirou para uma coma vigil: abre os olhos de dia, fecha-os à noite, mas não interage com o meio envolvente e depende de todos para tudo. Desde o acidente que a mãe, Odele de Souza, luta na justiça pelos direitos que lhe são devidos mas os responsáveis continuam impunes.

Quando vocês se juntam a mim e à minha filha, esta luta contra a NEGLIGÊNCIA e a IMPUNIDADE deixa de ser uma luta solitária. Quando vocês se juntam à mim e à Flavia contra a MOROSIDADE DA JUSTIÇA, estamos todos nós, do Brasil e todos os outros países presentes no blog de Flavia, exercendo não só a nossa cidadania, como a cidadania daqueles que por razões, as mais diversas, não têm como se fazer ler, nao têm como se fazer ouvir e por isso continuarão no anonimato. Sabemos que muitas outras Flavias, vitimas de NEGLIGÊNCIA e IMPUNIDADE existem, no Brasil e no mundo, à espera de justiça. Uma justiça que por ser tão lenta, acaba por beneficiar os culpados e punir as vítimas. Que nossa união, que nossa indignação coletiva contra a morosidade da justiça, represente, além de minha filha Flavia, também essas pessoas anônimas.(Odele Souza, 27 de Agosto de 2008).

Divulgar o caso da Flávia, a menina do sorriso roubado, é um dever e uma obrigação. Como mãe, a história de Flávia emociona-me. Como mãe, a luta de Odele toca-me profundamente. Por isso transcrevo a carta que ela escreveu à filha no dia da Mãe, 11 de Maio de 2008. São palavras de saudade e de esperança, de luta e de fé e de gratidão e , acima de tudo, de um amor incondicional.

Flávia,
Você sabe querida, que nunca dei muita importância a comemorações de “dia disso e dia daquilo”, incluindo o Dia das Mães, porque como eu lhe dizia filha, dia das mães são todos os dias, e você com sua voz mimosa de menina sapeca respondia. -
Eu sei mamãe, mas olha o que preparei pra você na minha escola; foi minha professora quem me ajudou a fazer, mas o que aí está escrito foi idéia "minha.”. E você frisava o “minha”. Ainda tenho filha, guardados estes tesouros que ganhei de você: - um pano de prato com o desenho de suas mãozinhas pintadas nele, um poema escrito por você e dedicado a mim, uma flor de papel dobrada, tipo origami e depois de desdobrada, a frase que me dizia: - Mamãe, você é a melhor mãe do mundo, e eu te amo! Tenho aqui filha, impressa, tatuada na minha memória sua imagem caminhando em minha direção com os bracinhos abertos, e eu, pronta para o seu abraço, me deliciava com as demonstrações de seu amor por mim. A saudade desse tempo querida, me consome, e enquanto escrevo esta carta que vou ler pra você neste domingo, tenho os olhos cheios dágua. Estou chorando de saudades de você. E hoje esta saudade parece ser maior, se é possível ser, por causa das lembranças que o Dia das Mães sempre me traz.
São 10 anos filha, que vejo você aí parada, alheia a tudo, inconsciente e imóvel enquanto a vida passa e continua em movimento. Tantas coisas você perdeu nestes 10 anos filha, um tempo que não dá mais para recuperar. Resta-me continuar na luta para ver seus direitos respeitados. Tivéssemos uma justiça mais justa, há muito os culpados pelo acidente que a deixou assim, já teriam sido condenados a lhe pagar uma indenização que me permitisse cuidar melhor de você. Fossem os responsáveis pelo acidente que a deixou assim pessoas e empresas menos preocupados com dinheiro e mais com vidas humanas, o estrago que fizeram em sua vida não seria corrigido, mas você teria hoje um pouco mais de qualidade de vida. Mas sabe filha, tenho usado seu blog para alertar as pessoas para o perigo dos ralos de piscinas, e é como se você aí, mesmo em silêncio, me pedisse para fazer isto. E protesto filha, de forma insistente e ininterrupta, protesto contra a lentidão da justiça em fazer valer os seus direitos. Acho que com isto minha Princesa, estou exercendo a nossa cidadania, a minha que além de mãe, sou responsável por você, e a sua cidadania que lhe tiraram o direito de exercer.
Mas olha filha, não quero só falar da tristeza que tem sido conviver com seu estado de coma, seu silêncio, sua imobilidade, com a perda da sua capacidade para a vida, e de me demonstrar o seu amor, da forma que antes você fazia. Não quero falar dos afetos que perdemos, das pessoas queridas que se afastaram, porque sabe Flavia, essas pessoas não fazem isto por mal, se distanciam porque talvez não suportem mais ver o seu sofrimento e não sabendo o que fazer ou dizer, se afastam para ficar longe de suas dores. Aprendi querida, que a dor alheia a longo prazo é insuportável para o ser humano. E além disso, filha, aprendi também que as pessoas ficam em nossas vidas pelo tempo que é necessário que fiquem. E depois podem partir para ficar próximas a outras pessoas que talvez mais do que nós, tenham necessidade da presença delas. Essas pessoas se afastam filha, porque já cumpriram sua missão conosco. Mas a vida é renovação querida e novos amigos nos chegaram através de seu blog. São nossos amigos virtuais Flavia, e são assim chamados porque não estão à nossa frente, não nos tocam fisicamente, mas tocam profundamente a nossa alma, o nosso coração, e com eles podemos rir e chorar de emoção pelo que nos fazem e nos dizem através de seu blog querida, que tem facilitado nosso contato com o mundo. Pois é filha, temos muitos amigos conseguidos através de seu blog. (...) Estes que aqui mencionei e muitos outros que mesmo sem deixar comentários, passam por seu blog para saber notícias suas. Você Princesa, reuniu muitas pessoas em torno de sua causa, que por ser justa, nem precisou de sua voz para se fazer ouvir por pessoas que assim como eu, também ficam indignadas com a negligência, a impunidade e o desrespeito aos direitos humanos. E a voz desses amigos têm se juntado à nossa e embora a justiça ainda não nos tenha dado ouvidos, com tantas vozes somadas às nossas, a justiça haverá de nos ouvir, Flavia. O seu silêncio filha, tem ecoado alto e atravessado fronteiras. Esperemos que ele seja ouvido aqui no Brasil – em Brasília e que sem mais demora se faça justiça pra você. Vamos confiar que isto aconteça antes do próximo DIA DAS MÃES.
Um beijo especial de sua mãe neste dia que você tanto gostava de festejar. Receba também um abraço de seu irmão, um filho também muito querido para mim. Amo muito vocês dois.
(Odele Souza, 11 de Maio 2008)

Existem, certamente, muitos casos como o da Flávia por esse mundo fora. Histórias de dramas pessoais, cujo pano de fundo é a injustiça e a impunidade. É nosso dever falar, dar a conhecer e ajudar a erguer bem alto a bandeira da solidariedade na luta pela verdade.
Lembro-me de alguém a quem foi pedido um minuto de silêncio pelas vítimas de uma outra luta, também ela desigual, e que respondeu: pois por essas mesmas vítimas vos digo que nem um só minuto me calarei!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Queridos amigos e visitantes
Esta "rentrée" não foi nada como estava à espera! Com equipamento emprestado lá consegui vir aqui dar uma palavrinha. Tenho tudo avariado. Foi um ar que se lhe deu, até à mais pequena porca e parafuso, até ao mais delgadinho fio!
Inacreditável como tudo isto nos faz falta. Quando nos habituamos a determinada coisa e depois ela se esvai sem se saber porquê ou como, ficamos assim, como diria a minha avó, como o "paulino no deserto".
E a pensar que ainda há alguns anos atrás eu era um calhau com dois olhos em matéria de computadores, internet e afins, e agora estou em estado de desolação e, se fosse dada a isso, à beira de um ataque de nervos! Mas é assim a vida! Voltei ao lápis e ao papel, e pelo andar da coisa ainda vou ter que usar a minha pena de pato que me olha com ar provocante da segunda prateleira da estante! Ah! Marfada!
Estou com saudades, é o que é! Saudades das visitas aos amigos, das espreitadelas aos blogs magníficos e bem dispostos, das idas aos comentários... Enfim, foi um mundo novo que descobri e no qual gosto de estar, conviver e participar. Até parece que me sinto um bocado coxa.
A todos os que têm vindo aqui e me deixaram um comentário, muito obrigado. A todos os que têm vindo dar uma espreitadela e não encontraram nada de novo, muito obrigado também!
Assim que puder responderei a todos com uma alegria especial, a do regresso!
A todos, bjinhos, bjs, abraços e apertos de mão! Até mais logo!!!