quinta-feira, 31 de julho de 2008

Pelos caminhos de Portugal

Em tempo de férias, sabe bem dar um passeio por essas terras de Portugal. Um dos motivos de interesse que podemos apreciar é o próprio chão que pisamos.

A Calçada Portuguesa

A calçada portuguesa é um tipo de revestimento de piso, utilizado especialmente na pavimentação de calçadas e de espaços públicos de uma forma geral.
Consiste em pedras de formato irregular, geralmente de calcário, que formam padrões decorativos pelo contraste entre as pedras de distintas cores. As cores mais tradicionais são o preto e o branco, embora sejam populares também o castanho e o vermelho. Em Portugal, os trabalhadores especializados na colocação desse tipo de calçada são os mestres calceteiros.
A chamada "calçada portuguesa", conforme a conhecemos, em calcário branco e negro, foi feita pela primeira vez em Lisboa no ano de 1842, por presidiários, numa iniciativa do Governador de Armas do Castelo de S. Jorge, Tenente-general Eusébio Cândido Furtado. O desenho foi uma aplicação simples, tipo zig-zag. Para a época foi uma obra de certa forma insólita que motivou versos satíricos dos cronistas portugueses e levou o escritor Almeida Garret a mencioná-la no romance "O Arco de Sant'Anna".
O sucesso foi tanto que proporcionou ao Tenente-general novas verbas para pavimentar toda a área do Rossio - seguramente a região mais conhecida, mais central de Lisboa - numa extensão de 8.712 metros quadrados.



OS CALCETEIROS
Escrevem na rua:
juntam
cuidadosamente
palavras
pegam-lhes
sílaba a sílaba
escolhem, unem,
completam, tocam
ao de leve por cima
e continuam.
Com o maço
e o suor
assinam.
Poema de António Osório
fontes: fotos amigas,wikipédia, calcadaportuguesa.blogspot.com

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O Vaso Chinês

Uma velha senhora chinesa possuía dois grandes vasos, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava às costas. Um dos vasos era rachado e o outro era perfeito. Este último chegava sempre cheio de água ao fim da longa caminhada do rio até casa, enquanto o rachado chegava meio vazio. Durante muito tempo foi assim, chegando a senhora a casa somente com um vaso e meio de água. Naturalmente, o vaso perfeito era muito orgulhoso do próprio resultado enquanto que o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir fazer só metade daquilo que deveria.


Ao fim de dois anos, reflectindo sobre a própria amarga derrota de ser 'rachado', o vaso falou com a senhora durante o caminho: "Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta fenda que eu tenho faz-me perder metade da água durante o caminho até a sua casa..."
A velhinha sorriu: "Reparaste que lindas flores há somente do teu lado do caminho? Eu sempre soube do teu defeito e portanto plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado. E todos os dias, quando voltávamos, tu regava-las. Durante dois anos pude recolher aquelas belíssimas flores para enfeitar a mesa. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa. Cada um de nós tem o seu próprio defeito. Mas é o defeito que cada um de nós tem, que faz com que nossa convivência seja interessante e gratificante. É preciso aceitar cada um pelo que é e descobrir o que há de bom nele".
Texto enviado por e-mail

segunda-feira, 28 de julho de 2008

As Cores do Nosso Mundo

Este é o nosso planeta: vida e cor!

Desafios

A amiga rendadebilros lançou-me um desafio que tem tanto de inesperado como de ... arrepiante. Mas como eu não sou de"virar a cara a cachão" (como se diz por aqui) cá vai.
O desafio consta de se enumerar oito itens que se gostaria de realizar antes de morrer! Ah! Ah! Eu não disse? A morte é o que temos de mais certo nesta vida e não gostaria nada de ir ainda.

Como não me tinha debruçado ainda sobre este pensamento , aqui vão os primeiros que me vieram assim de repente:

1- Agora que sei que vou ser avó, gostaria de ver a criaturinha crescer e ser gente.

2- Ver outros netos.

3- Viajar para esses lugares de sonho que outros têm visitado e que só conheço por fotografias.

4- Inscrever-me num daqueles lugares de massagens e relaxes e ter os pacotes completos.
Bonita não ficarei, com certeza, mas deve aliviar o stress.

5- Chegar à idade da reforma e gozá-la ainda algum tempo. Só este já me dá alguma margem de manobra!

6- Aprender a tocar na minha viola como deve ser. O poeta queria ir de burro, mas acho que se for ao som de viola é mais, como direi, exótico.

7- Ter o meu companheiro de sempre comigo.

8- Morrer sem sofrimento nem dar trabalho a ninguém.

Não passo este desafio a ninguém porque... ESTÁ TUDO DE FÉRIAS!!!

Pronto, rendadebilros, creio ter respondido satisfatoriamente ao teu desafio!

sábado, 26 de julho de 2008

Tempo de férias



Maluda, Olhão



Bati à porta levemente. Chamei.
Aguardei, olhando para as flores miudinhas que compunham os vasos postados em fila, junto à parede. Um carreiro de formigas atarefadas desviou-me a atenção. Nenhuma caiu ao Tejo. Continuavam carreirosamente, de mãos vazias, umas, de costas carregadas, outras.
Voltei-me para a porta. Abri-a devagarinho e chamei. Ninguém respondeu. Entrei.
O corredor, vivamente iluminado pela janela do fundo, estava deserto. Perdidos na passadeira verde, dois ou três brinquedos jaziam, estáticos e desorientados.
A porta escancarada da primeira sala convidou-me a espreitar. Livros arrumados em cima da mesa larga faziam parceria com folhas de papel, cheios de letras, esquemas, grelhas. Trabalho acabado e pronto a encher algumas das pastas que se alinhavam nas prateleiras encostadas à parede da janela. No sofá comprido, três almofadas descansavam languidamente umas nas outras, contemplando, à sua frente, as estantes onde se apertavam as lombadas de livros de poesia e de histórias de velhos que liam romances de amor. Cheguei-me à janela e os meus olhos baloiçaram no mar que traçava uma linha azul para lá das casas.
Voltei ao corredor. O silêncio abria alas ao restolhar das folhas das árvores e ao cantar das cigarras.
Um vulto saltou-me aos pés. Uf! Era um gato! Listrado, de grandes bigodes e rabo farfalhudo. Viera da porta ao lado. Ena! Sala de gente viajada! Fotografias, livros, mais fotografias. A um canto, um armário cheio de música e ao lado uma pilha de revistas. Pendurado na parede oposta, um saxofone amarelo encerrava o testemunho silencioso de noites carregadas de sons cálidos. A cortina que cobria o janelão levantou-se timidamente. Desviei-a e olhei lá para fora. Era o outro lado da cidade. A torre da igreja, os edifícios antigos, alguns telhados.
Saí daquela contemplação quando o sol me chapou no rosto toda a sua força.
Mais silêncio, mais folhagem, mais cigarras. Decididamente não havia vivalma.
Ainda pensei deixar recado. Um daqueles papelinhos coloridos de que frequentemente nos socorremos quando a nossa memória deixa de ter espaço. Mas não. Ninguém vai ler. E quando regressarem, o tempo já diluiu as letras e enrolou o papel.
Dirigi-me à porta da rua. Olhei para as flores dos vasos e pareceram-me mais miudinhas. As formigas do carreiro tinham mudado de direcção. O restolhar das folhas e o canto das cigarras abriam, agora, alas ao silêncio do calor abrasador da tarde. Afinal foi tudo de férias.
Saí e fechei a porta.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Masculino ou Feminino?

- Pai…
- Hmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino.
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "sexo" é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
- Não devia ser "a sexa"?
- Não.
- Por que não?
- Porque não! Desculpe. Porque não. "Sexo" é sempre masculino.
- O sexo da mulher é masculino?
- É. Não! O sexo da mulher é feminino.
- E como é o feminino?
- Sexo mesmo. Igual ao do homem.
- O sexo da mulher é igual ao do homem?
- É. Quer dizer… Olha aqui. Tem o sexo masculino e o sexo feminino, certo?
- Certo.
- São duas coisas diferentes.
- Então como é o feminino de sexo?
- É igual ao masculino.
- Mas não são diferentes?
- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo, mas não muda a palavra.
- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
- A palavra é masculina.
- Não. "A palavra" é feminino. Se fosse masculina seria "O pal…"
- Chega! Vai brincar, vai.
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
- Temos que ficar de olho nesse guri…
- Por quê?
- Ele só pensa em gramática.

Luís Fernando Veríssimo, Escritor e jornalista brasileiro

in "Comédias para se Ler na Escola", Publicações Dom Quixote, 2002, Lisboa.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Viagens

As férias estão aí! Estes são alguns dos locais que escolheria para visitar. Todos na Europa.



sábado, 12 de julho de 2008

Quando a notícia não o é

Gosto de ler jornais. É interessante ver os diversos e diferentes tratamentos que as notícias têm consoante o tipo de jornal onde aparecem. É interessante ler uma notícia “fresquinha” hoje de manhã e, ao meio dia, descobrirmos nos telejornais que houve desenvolvimentos tais que nada daquilo que se leu é assim. Mas é bom. Retemos o que nos interessa e o resto é lido só “as gordas” ou simplesmente olhado em diagonal.
As notícias renovam-se, porque todos os dias acontecem coisas, boas, más, horríveis.
No entanto há notícias que se ancoram nas páginas dos jornais e são dissecadas até à exaustão. Há especialistas nestas. Não há número que não volte à carga com mais do mesmo.
Nestes últimos meses, tem saltado para a ribalta das linhas jornalísticas o caso amoroso entre um certo futebolista que mesmo a dormir ganha dinheiro e uma menina que, à falta de talentos artísticos, faz render os seus talentos anatómicos. As notícias sucedem-se a um ritmo alucinante, dele e dela.
Ontem (ou foi hoje?) abri um dos jornais a que deitei a mão e pasmei por ver uma página inteira dedicada à referida menina que… tinha torcido um pé!
Oh céus! Que horror! E assim me veio à cabeça o texto de Eça de Queiroz, escrito há precisamente 101 anos, mas tão actual quanto o era nessa altura, e por isso alvo da pena desse grande escritor e jornalista.
Ah, esta abominável influência da distância sobre o nosso imperfeito coração! Bem recordo uma noite em que, numa vila de Portugal, uma senhora lia, à luz do candeeiro, que dourava mais radiantemente os seus cabelos já dourados, um jornal da tarde. Em torno da mesa, outras senhoras costuravam.Espalhados pelas cadeiras e no divã, três ou quatro homens fumavam, na doce indolência do tépido serão de Maio. E pelas janelas abertas sobre o jardim entrava, com o sussurro das fontes, o aroma das roseiras. No jornal que o criado trouxera e ela nos lia, abundavam as calamidades. Era uma dessas semanas também em que pela violência da natureza e pela cólera dos homens se desencadeia o mal sobre a terra.
Ela lia as catástrofes, lentamente, com a serenidade que tão bem convinha ao seu sereno e puro perfil latino. «Na ilha de Java, um terramoto destruíra vinte aldeias, matara duas mil pessoas …». As agulhas atentas picavam os estrofos ligeiros; o fumo dos cigarros rolava docemente na aragem mansa; e ninguém comentou, sequer se interessou pela imensa desventura de Java. Java é tão remota, tão vaga no mapa! Depois, mais perto, na Hungria, «um rio transbordara, destruindo vilas, searas, os homens e os gados…». Alguém murmurou, através de um lânguido bocejo: «Que desgraça!». A delicada senhora continuava, sem curiosidade, muito calma, aureolada pelo oiro da luz. Na Bélgica, numa greve desesperada de operários que as tropas tinham atacado, houvera entre os mortos quatro mulheres, duas criancinhas…
Então, aqui e além, na aconchegada sala, vozes já mais interessadas exclamaram brandamente: «Que horror!... Estas greves!... Pobre gente!...» De novo o bafo suave, vindo de entre as rosas, nos envolveu, enquanto a nossa loura amiga percorria o jornal atulhado de males. E ela mesma então teve um oh de dolorida surpresa. No sul da França, «junto à fronteira, um trem descarrilado causara três mortes, onze ferimentos…». Uma curta emoção, já sentida, já sincera, passou através de nós com aquela desgraça quase próxima, na fronteira da nossa península, num comboio que desce a Portugal, onde viajam portugueses… Todos lamentámos, com expressões já vivas, estendidos nas poltronas, gozando a nossa segurança.
A leitora, tão cheia da graça, virou a página do jornal doloroso e procurava noutra coluna, com um sorriso que lhe voltara, claro e sereno… E, de repente, solta um grito e leva as mãos à cabeça:
– Santo Deus!...
Todos nos erguemos num sobressalto. E ela, no seu espanto e terror, balbuciando:
– Foi a Luísa Carneiro, da Bela-Vista… Esta manhã! Desmanchou um pé!
Então a sala inteira se alvoroçou num tumulto de surpresa e desgosto.
As senhoras arremessaram a costura; os homens esqueceram charutos e poltronas; e todos se debruçaram, reliam a notícia no jornal amargo, se repastavam da dor que ela exalava!... A Luisinha Carneiro! Desmanchara um pé! Já um criado correra, furiosamente, para a Bela-Vista, buscar notícias por que ansiávamos. Sobre a mesa, aberto, batido da larga luz, o jornal parecia todo negro, com aquela notícia que o enchia todo, o enegrecia.
Dois mil javaneses sepultados no terramoto, a Hungria inundada, soldados matando crianças, um comboio esmigalhado numa ponte, fomes, pestes e guerras, tudo desaparecera – era sombra ligeira e remota. Mas o pé desmanchado da Luísa Carneiro esmagava os nossos corações… Pudera! Todos nós conhecíamos a Luisinha – e ela morava adiante, no começo da Bela-Vista, naquela casa onde a grande mimosa se debruçava do muro dando à rua sombra e perfume.

Eça de Queirós – Cartas Familiares e Bilhetes de Paris (1907)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Esperanto

Adicio de Literoj

(Soma de Letras)

Desde tempos recuados que o Homem procura criar um modo de se expressar, utilizado e compreendido por todos. Fosse para dar corpo a comunicações sobrenaturais (linguagem dos anjos ou enoquiana), ao arranjo hierárquico do pensamento humano ou tão só incentivar a aproximação dos povos , pessoas houve que se dedicaram a criar sistemas de comunicação oral e escrita, simples ou simplificados, partindo dos seus próprios conceits delinguagem e cultura. Nasceram, assim, as chamadas línguas artificiais ou auxiliares. Questões de gramática e de linguística têm sido levantadas e discutidas, mas o que é certo é que, com mais ou menos relevância do número de comunidades falantes, as línguas auxiliares têm vindo a expandir-se, originando curiosamente, na minha opinião, um efeito um pouco contrário ao objectivo inicial: unir todos através da língua.
De entre mais de uma trintena, a que maior expressão tem é o Esperanto.
O seu criador foi Ludovic Lazarus Zamenhof, nascido na Polónia em 1859. Oftalmologista de profissão, era um filólogo reputado, falante de várias línguas naturais e de volapuque (Volapük), língua artificial criada em 1880 por Johann Martin Schleyer, um padre católico alemão.
A intenção de construir uma língua de muito fácil aprendizagem, que servisse como língua franca internacional, para toda a população mundial (e não, como muitos supõem, para substituir todas as línguas existentes), foi concretizada no lançamento do primeiro livro sobre Esperanto, em 26 de Julho de 1887. Escrito em russo, continha as 16 regras gramaticais, a pronúncia, alguns exercícios e um pequeno vocabulário. Intitulava-se Unua Libro, e foi posteriormente publicado em alemão, polaco e francês.
Em linhas gerais, o Esperanto tem como base as línguas românicas e germânicas para o vocabulário e as línguas eslavas para a fonologia. As suas regras fundamentais estabelecem critérios de expansão lógicos e naturais, de modo que a língua se enriquece continuamente, quer através dos usos que se faz dela, quer agregando conteúdos novos, que não existiam na sua fase arcaica (inicial).
O esperanto é utilizado em viagens ( através do Pasporta Servo, rede internacional de hospedagem solidária), correspondência, intercâmbio cultural, convenções, literatura, ensino de línguas, televisão, transmissões de rádio e internet.
Acusado por alguns de não ter uma cultura própria, o Esperanto, com 120 anos de história, formou uma cultura própria. Os Esperantistas falam em esperanto e sobre esperanto, usam termos, gírias, sarcasmos e uma série de expressões idiomáticas próprias. Para além disso apresenta um fundo considerável de músicas e obras literárias originais na língua ( William Auld, por exemplo, já foi indicado para o Prémio Nobel de Literatura pelas suas obras originais em esperanto), uma comunidade de falantes que têm o esperanto como língua materna e uma língua usada em todos os continentes. Mas o essencial da sua cultura é a tolerância e o respeito pelos costumes e crenças dos vários povos.



Frases Célebres

Armeo da cervoj komandata de leono estas pli timinda ol armeo da leonoj komandata de cervo.
Um exército de cervos comandado por um leão é muito mais temível do que um exército de leões comandado por um cervo. (Plutarco)


Ekzistas tiuj, kiuj pasas tra la arbareto kaj nur vidas brullignon por fajraĵo.
Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para a fogueira. (Tolstoi)


Estas grandaj homoj kiuj igas ĉiujn sin senti etaj. Sed la vera granda homo estas tiu, kiu igas ĉiujn sin senti grandaj.
Há grandes homens que fazem com que todos se sintam pequenos. Mas o verdadeiro grande homem é aquele que faz com que todos se sintam grandes. (Chesterton)


La veran vojaĝon oni faras en la memoro.
A verdadeira viagem se faz na memória. (Marcel Proust)


Ne rapidu! Kiu pli kuras, pli stumblas.
Devagar! Quem mais corre, mais tropeça. (Shakespeare)

Poema de Carlos Drumond de Andrade

Jozefo

Kaj nune, Jozef’?
La festo finiĝis,
la lum’ estingiĝis,
popol’ malaperis,
vespero frostiĝis,
kaj nune, Jozef’?
kaj nun, Joakim’?
kaj nune, Rajmundo?
kaj nune, vi mem?
Vi mem, sennomulo,
vi mem, mokemulo,
vi, versofaranto,
amanto, plendanto?
kaj nune, Jozef’?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Joaquim?
e agora Raimundo?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta,
e agora José?

Fontes: Wikipédia

sites em e sobre esperanto

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ary dos Santos

Meu Corpo

Meu corpo
é um barco sem ter porto
tempestade no mar morto
sem ti.
Teu corpo
é apenas um deserto
quando não me encontro perto
de ti.

Teus olhos
são memórias do desejo
são as praias que eu não vejo
em ti.
Meus olhos
são as lágrimas do Tejo
onde eu fico e me revejo
sem ti.

Quem parte de tão perto nunca leva
as saudades da partida
e as amarras de quem sofre.
Quem fica é que se lembra toda a vida
das saudades de quem parte
e dos olhos de quem morre.

Não sei se o orgulho da tristeza
nos dói mais do que a pobreza
não sei.
Mas sei
que estou para sempre presa
à ternura sem defesa
que eu dei.

Sozinha
numa casa que é só minha
espero o teu corpo que eu tinha
só meu.
Se ouvires
o chorar de uma criança
ou o grito da vingança
sou eu.

Sou eu de cabelo solto ao vento
com olhar e pensamento
no teu.
Sou eu
na raiz do pensamento
contra ti e contra o tempo
sou eu.


Picasso- Blue Nude
Desespero
Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero.

domingo, 6 de julho de 2008

David Mourão-Ferreira

Varandas

Das varandas desta rua,
Há uma que vive nua,
Outra que nem tem lençol.
A terceira é um catavento:
Em Março noiva do vento,
Em Julho amante do sol.

As outras não têm história,
Ou perderam a memória
Ou passam a vida à espera.
Mas há ainda mais uma
Que é confidente da bruma
E prima da Primavera.

Quase ninguém a conhece,
Apenas quando anoitece
Toda ela se alumia.
E no entanto essa luz
Ganha a forma duma cruz
Através da gelosia.


Entre as varandas são tantas,
Há pecadoras e santas,
Umas ricas outras pobres.
Mas não sei se há uma rainha,
Nem direi qual é a minha,
A ver se tu a descobres.


Imagens: Janelas, Maluda



Escada sem Corrimão


É uma escada em caracol
E que não tem corrimão.
Vai a caminho do Sol
Mas nunca passa do chão.

Os degraus, quanto mais altos,
Mais estragados estão,
Nem sustos nem sobressaltos
servem sequer de lição.

Quem tem medo não a sobe
Quem tem sonhos também não.
Há quem chegue a deitar fora
O lastro do coração.

Sobe-se numa corrida.
Corre-se p'rigos em vão.
Adivinhaste: é a vida
A escada sem corrimão.