sábado, 10 de maio de 2008

Fotografias

Gosto muito de fotografias. Fotografias de pessoas, essencialmente.
Sempre que apanho um retrato à mão (ou à vista) a primeira coisa que me acode é: que estaria esta pessoa a pensar no momento? Pode parecer sem importância. Mas partindo do princípio que o rosto, ou mesmo todo o corpo, é o espelho do que vai na alma, calhando até tem alguma. Aqui por casa há muitas.Umas mais movimentadas do que outras. As dos casamentos repousam serenamente entre as folhas de álbuns separadas por papel de seda lavrada e só dão testemunho desses eventos quando há visitas longínquas e antigas. As fotos das viagens agrupam-se por destinos, de braço dado com bilhetes de museus, cartões de hotéis e panfletos turísticos. O seu lugar é na estante junto às enciclopédias e atlas, porque normalmente suscitam dúvidas sobre se o lugar x era antes ou depois do lugar y, ou se a porta onde aparecemos encostados era do museu tal ou tal, quando consultadas em termos de "nunca mais lá fomos" ou "já nem me lembro em que ano foi isso". Existem também uns quantos resguardos plastificados onde se amontoam fotografias avulsas
Os retratos da família estão juntinhos uns aos outros, alinhados por épocas e não têm pouso certo. Os mais antigos são vistos vezes sem conta. Admira-se o cabelo brilhante do avô, as sobrancelhas espessas do pai, a gola à americana do casaco do tio, os brincos de pendentes da mãe, as rendas da combinação da mana que escondiam o braço da prima que a segurava. Aqui tinha ela cinco anos. Aqui foi no ano da inspecção militar. Esta foi à entrada da feira. Coitadinho, morreu no ano a seguir. Tudo em tons de cinzento e sépia.
Que estariam eles a pensar no momento em que olhavam para a máquina?

1 comentário:

rendadebilros disse...

É um exercício muito empolgante... sobretudo daqueles que partiram antes de nós chegarmos... e onde encontramos traços do nosso rosto e até do nosso carácter... e assim também se recorda e vive...