quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Poeta quase Desconhecido

Eterno Conto
Loulé, Julho de 1941 – Fernando Laginha – Poeta Louletano

Pus-me a contar à Vida o triste conto
da minha vida, e , perguntei chorando
porque motivo me andará roubando
as miragens azuis a que me aponto;

e porque fez de mim um velho tonto,
tendo eu vinte anos, que gastei sonhando
por caminhos sem fim, andando…andando
sem nunca ter chegado a qualquer ponto !

- E respondeu-me: – eu não te roubei nada !
Vós é que trilhais mal a própria estrada.
- Há sempre luz e sol onde eu desponto !

Mas – vê lá tu -, desde que o Mundo existe,
a todos tenho ouvido um conto triste
e que afinal, é sempre o mesmo conto.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Livros e Leituras

A propósito de leituras e livros, descobri no facebook esta página coletiva, ilustrada com a participação dos seguidores.
Fotografias, curiosidades, pensamentos, sugestões, tudo à volta dos livros e das leituras.

https://www.facebook.com/improbableslibrairiesimprobablesbibliotheques

                                                    Innovative urban furniture, "Stair Squares", an idea by Mark Reigelman;                                                              little blue tables that fit perfectly onto steps to offer little tables for eating and reading.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Poema da minha infância

Quando era criança, gostava tanto deste poema que o memorizei.
António Nobre nasceu no dia 16 de Agosto de 1867. No seu belo e tristíssimo livro "" estava o 

O Somno de João  

O João dorme... (Ó Maria,
Dize áquella cotovia
Que falle mais devagar:
Não vá o João, acordar...)

Tem só um palmo de altura
E nem meio de largura:
Para o amigo orangotango
O João seria... um morango!
Podia engulil-o um leão
Quando nasce! As pombas são
Um poucochinho maiores...
Mas os astros são menores!

O João dorme... Que regalo!
Deixal-o dormir, deixal-o!
Callae-vos, agoas do moinho!
Ó mar! falla mais baixinho...
E tu, Mãe! e tu, Maria!
Pede áquella cotovia
Que falle mais devagar:
Não vá o João, acordar...

O João dorme... Innocente!
Dorme, dorme eternamente,
Teu calmo somno profundo!
Não acordes para o mundo,
Póde affogar-te a maré:
Tu mal sabes o que isto é...

Ó Mae! canta-lhe a canção,
Os versos do teu irmão:
«Na Vida que a Dor povoa,
Ha só uma coisa boa,
Que é dormir, dormir, dormir...
Tudo vae sem se sentir.»

Deixa-o dormir, até ser
Um velhinho... até morrer!

E tu vel-o-ás crescendo
A teu lado (estou-o vendo
João! Que rapaz tão lindo!)
Mas sempre, sempre dormindo...

Depois, um dia virá
Que (dormindo) passará
Do berço, onde agora dorme,
Para outro, grande, enorme:
E as pombas que eram maiores
Que João... ficarão menores!

Mas para isso, ó Maria!
Dize áquella cotovia
Que falle mais devagar:
Não vá o João, acordar...

E os annos irão passando.

Depois, já velhinho, quando
(Serás velhinha tambem)
Perder a cor que, hoje, tem,
Perder as cores vermelhas
E for cheiinho de engelhas:
Morrerá sem o sentir,
Isto é deixa de dormir...
Acorda e regressa ao seio
De Deus, que é d'onde elle veio...

Mas para isso, ó Maria!
Pede áquella cotovia
Que falle mais davagar:

Não vá o João, acordar...