segunda-feira, 20 de maio de 2013

Ai a Língua!

No meio das incongruências políticas com que somos premiados todos os dias, vão também saltando aqui e ali outras incongruências. Gramaticais e semânticas, a bem dizer. Não é que eu entenda muito da natureza destes palavrões, mas do que eu vou aqui falar não há enquadramento económico, desportivo, cultural ou recreativo, pelo que se encaixa aí na perfeição.
Vamos lá: num dia da semana que passou, o Presidente da República, não sei se no ardor do discurso inflamado sobre a austeridade , se no estertor da defesa da mesma, e entalado na péssima dicção que vem ultimamente desenvolvendo, saiu-lhe um "cidadões" para aqui, um "cidadões" para acolá. Como nesse momento da reportagem televisiva estava com umas coisas entre mãos (rás parta a cebola!), o meu cérebro não reagiu de imediato. Fcou, no entanto, uma nódoazita à tona dos líquidos, que foi espalhando e incomodando. À noite, parou tudo, parei tudo. Tinha de ouvir a peça. E lá estava o "ões" da indignidade gramatical. Ó senhor Presidente, que lhe falte letras na sua oralidade, que confunda os "r" com os "g" vá que não vá, pois que não sendo locutor de rádio, a mais não será obrigado. Mas CIDADÕES? CIDADÕES? Santa paciência! Eu que passo um terço do meu dia a martelar na cabeça dos moços (salvo seja!) o singular e  o plural, que risco com quase fúria as desafinações do género e número, ainda tenho de levar com um presidente que maltrata a Língua? Por favor, despalite o bolo-rei dos dentes, recomponha-se, olhe para a sua mestra Maria e fale como deve ser! 
A outra incongruência deu-se ontem. Via Tweeter. Via deputado. Carlos Abreu Amorim, também no ardor do discurso clubístico, ou no estertor do reinado político, desabafou em mensagem eletrónica que quem não é do clube do Porto é Magrebino! Redutor, o futebol: se não és deste mundo azul dos quatro costados, então só podes pertencer à turba acéfala dos rafeiros sem casa nem dono, que ocupam a outra parte do mundo que é magrebino! Dois insultos numa só frase. É obra. E é este ser surreal um DEPUTADO. Claro que ele pode ter a vida que quiser, o clube que quiser,  que tem direito a ter vida para além de deputado. Mas não se pode esquecer de que é uma figura pública e que não pode dizer bacoradas da boca para fora. Ninguém lhe dá o direito de usar nomes com segundos sentidos! Quem são os Magrebinos? Os habitantes do Magreb. Tão só. São pessoas como todas as outras. Usar o seu nome com sentido pejorativo, para desvalorizar outros, para acentuar divisões Norte e Sul, isso é baixo e ridículo. Componha-se, homem de Deus! Fale como deve ser que o seu ordenado de deputado é pago pelos contribuintes deste país, com as mesmas origens que as suas!

2 comentários:

Zé Povinho disse...

A nossa língua é constantemente abastardada por gente que melhor faria, estar calada.
Abraço do Zé

o escriba disse...

É isso, Zé Povinho!Os maus exemplos estão cada vez mais a vir de cima.


Um abraço
Esperança