domingo, 15 de julho de 2012

Resta a esperança

 Já há alguns dias , largos dias, que andamos com uma espécie de terror branco nas nossas cabeças: temos lugar, não temos? Como vai ser? E as respostas foram dadas no final da semana - umas de forma frontal, em direto, outras de forma mais miserável, em forma de recados indiretos. Quantos de nós estão a sofrer na pele a dispensa de trabalho. Quantos de nós virão a estar no próximo ano. Não abre telejornais, mas devia abrir, ocupados que estão em esmiuçar buscas de conhecimento permanente, fraudulentamente certificadas mas, ao que parece, plenas de legalidade. 
Para muitos de nós, a dedicação, o empenho e o profissionalismo diluiram-se na incerteza de um amanhã. A esperança é tudo o que resta.

Poema de agradecimento à corja    

Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.


Joaquim Pessoa

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