sábado, 16 de abril de 2011

Tentativas

Muitas palavras me têm vindo à cabeça. Montes delas. Depois arrumam-se em meia dúzia de frases. Secas e banais. Não gosto, não me preenchem a parte do cérebro que ainda está vazio de preocupações e incertezas. A escrita que ocupava o tempo deixou de ter tempo para o ser. Bolas! Há demência  em demasia nas notícias, o quotidiano faz-se em corridas de obstáculos. Isto está mal, muito mal, ouve-se a cada instante. Mas afinal por onde anda a primavera das coisas boas?  Com esforço vamos vivendo, tentando encontrar as nossas pequenas felicidades, agarrando-nos aos pedacitos bons das coisas más. Bolas! Bolas! Bolas! Isto está a sair mais deprimente do que pensava. A intenção era boa, mas a tentativa está a sair falhada. Salvemos, pois, a intenção com palavras saídas de outras cabeças. Rasgue-se a teia e procure-se a alegria.

Até Amanhã

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.


É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

 
Eugénio de Andrade