quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Poesia a condizer

Almada Negreiros

Esperança:

isto de sonhar bom para diante
eu fi-lo perfeitamente,
Para diante de tudo foi bom
bom de verdade
bem feito de sonho
podia segui-lo como realidade

Esperança:
isto de sonhar bom para diante
eu sei-o de cor.
Até reparo que tenho só esperança
nada mais do que esperança
pura esperança
esperança verdadeira
que engana
e promete
e só promete.


Esperança:
pobre mãe louca
que quer pôr o filho morto de pé?

Esperança
único que eu tenho
não me deixes sem nada
promete
engana
engano que seja
engana
não me deixes sozinho
esperança.

 
Miguel Torga
 
Não sei quantos seremos, mas que importa?!

Um só que fosse, e já valia a pena
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Incoerências

Vivemos tempos de incoerência.
Uma das notícias de hoje na televisão apresentava o insólito caso de um casaco velho que levou quatro anos a percorrer os corredores da Justiça ansiando pelo descanso eterno numa qualquer lixeira urbana. A saga envolveu juizes, ministério público, advogados e demais funcionários do aparelho tribunalício. Gastou-se do erário público, desgastou-se mais o desgastado casaco.
Se isto não é o exemplo acabado da incoerência, vou ali e já volto!
Dizem os (des)entendidos que o país atravessa graves necessidades e que é preciso poupar. Então e os gastos?
Hão-de vir por estes dias uns senhores engravatados realizar uma cimeira. Dos proveitos ou proventos que trarão ao país pouco se descortina. Mas vai-se gastar e muito.
Havia antigamente aqui pelos meus lados um ditado que dizia: é como em Monchique, tapa-se a cara e o resto que se trompique...