segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Laços

Jean-Baptiste-Siméon Chardin
A Jovem Professora (1736)


Visitações, ou o poema que se diz manso

De mansinho ela entrou, a minha filha.

A madrugada entrava como ela, mas não
tão de mansinho. Os pés descalços,
de ruído menor que o do meu lápis
e um riso bem maior que o dos meus versos.


Sentou-se no meu colo, de mansinho.

O poema invadia como ela, mas não
tão mansamente, não com esta exigência
tão mansinha. Como um ladrão furtivo,
a minha filha roubou-me a inspiração,
versos quase chegados, quase meus.

E mansamente aqui adormeceu,
feliz pelo seu crime.

Ana Luisa Amaral

10 comentários:

Isamar disse...

De mansinho, mais um poema lindíssimo de laços feito. Que estes laços, aqui feitos,perdurem por muito, muito, tempo.

Boas férias nas praias da nossa formosa ria.

Beijinhos

Bem-hajas!

Zé Povinho disse...

Não conhecia. Obrigado.
Abraço do Zé

o escriba disse...

Isamar e Zé Povinho

Ana Luisa Amaral tem uma poesia muito sentida, muito própria, onde os o quotidiano alcança uma dimensão tão estranha quanto profunda.


Um abraço
Esperança

lagartinha disse...

senti saudades, por isso vim deixar um beijinho e acabei por ler uma "coisa" tão bonita!
Beijos

José Lopes disse...

Muita ternura "de mansinho".
Cumps

o escriba disse...

Ana Lagartinha


também tenho saudades suas, das suas tiradas engraçadas e da sua presença simpática e afável!
Que tudo lhe esteja a correr bem!

bjinhos
Esperança

o escriba disse...

Guardião


este poema é efectivamente pleno de ternura!


um abraço
Esperança

A. João Soares disse...

No blog Sempre Jovens http://cvssemprejovens.blogspot.com/
publiquei hoje um texto intitulado «António virou irónico» que é um arremedo do texto de Eça em que se refere à notícia de a Luisinha Carneiro ter torcido um pé.
Sucede que não consigo encontrar tal texto e já perdi algum tempo na procura. o Google enviou-me para este blog. Fico muito grato a quem me possa dar a indicação de que preciso. O meu e-mail consta na minha ficha de blogger.

Obrigado Abraço
João
Do Mirante

A. João Soares disse...

Já encontrei o que desejava sobre a Luisinha Carneiro em

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/eca-de-queiroz/cartas-familiares-e-bilhetes-de-paris-7.php

O título é As catástrofes e as leis de emoção.
Muito obrigado e peço desculpa pelo pedido, recompenso com esta informação!!!
Abraço
João
Do Miradouro

o escriba disse...

A. João Soares


Efectivamente publiquei há um tempo atrás esse excerto como introdução a um post meu.
Mas se já encontrou, ainda bem.
Agradeço a informação que deixou.


Um abraço
Esperança