sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Planeta dos Livros

Ontem foi o Dia da Terra Mãe, hoje é o Dia do Livro, daqui a dois dias será o Dia dos Dias Todos. Tanta comemoração, tanto para dizer, para escrever, para reflectir. Mas o tempo não ajuda. Tempo do relógio, tempo do ar, tempo da vida.
A Terra Mãe acenou-nos com um vulcão, aquele de nome indizível, que virou a vida do avesso, esta vida que criámos, montados em tecnologia de ponta e pressa de chegar aos destinos, num destino que ainda vamos a tempo de mudar se respondermos com um sorriso de boa vontade aos avisos que esta Terra nos manda.



Dos Livros, partilho convosco a capa de dois. O primeiro é de um tempo que existiu, em que a inocência e a honestidade nas relações humanas era conta corrente na vida das pessoas. Não o partilho com saudosismo, mas antes como uma terna lembrança.


O segundo recorda um tempo que foi vivido pela minha geração e que terminou em 25 de Abril de 1974. A guerra do Ultramar, não sendo assunto tabu, ainda carrega feridas que não sararam totalmente. É o eterno problema da resolução do passado para se caminhar no presente sem medo do futuro.

E agora deixo Fernando Pessoa falar pela boca de um dos seus heterónimos.

Estou cansado, é claro,

Porque, a certa altura,

a gente tem que estar cansado.

De que estou cansado, não sei:

De nada me serviria sabê-lo,

Pois o cansaço fica na mesma.

A ferida dói como dói

E não em função da causa que a produziu.

Sim, estou cansado,

E um pouco sorridente

De o cansaço ser só isto

— Uma vontade de sono no corpo,

Um desejo de não pensar na alma,

E por cima de tudo uma transparência lúcida

Do entendimento retrospectivo...

E a luxúria única de não ter já esperanças?

Sou inteligente; eis tudo.

Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,

E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,

Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Álvaro de Campos, in "Poemas"

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