sábado, 25 de abril de 2009

35 Anos de Abril


CANTIGA DE ABRIL
Às Forças Armadas e ao povo de Portugal
«Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade»
J. de S.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste pais,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério.
Sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.
Qual a cor da liberdade?
É verde. verde e vermelha.
Essas guerras de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por politica demente.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Quase, quase cinquenta anos
Durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.
Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.
Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

26-28(?)/4/1974
Obras de Jorge de Sena
"40 anos de servidão"
Edições 70 1989

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Canção do novo protesto


Hoje as minhas letras são de descontentamento!
Do meu baú de recortes fui tirar este cartoon. Passados 35 anos, o nosso papel continua a ser semelhante, com a agravante de que ,agora, nem para o papel ganhamos!
Estamos, meus amigos, como diz esta canção de protesto dos tempos modernos:
..............................
Sem Eira nem Beira
Anda tudo do avesso
Nesta rua que atravesso
Dão milhões a quem os tem
Aos outros um "passou bem"
Não consigo perceber
Quem é que nos quer tramar
Enganar, despedir
Ainda se ficam a rir
Eu quero acreditar
Que esta merda vai mudar
E espero vir a ter uma vida bem melhor
Mas se eu nada fizer
Isto nunca vai mudar
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar
Mais força para lutar
Mais força para lutar
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer
É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar, enganar
O povo que acreditou
Conseguir encontrar mais força para lutar
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar
Mais força para lutar
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a f***r
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Mas eu sou um homem honesto
Só errei na profissão
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a...
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Dê-me um pouco de atenção
Xutos & Pontapés

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Aniversário


Faz hoje 1 ano que iniciei este blog.
1º aniversário, 1º balanço. Positivo.
Tem sido um bom espaço de aprendizagem, onde abro as portas à amizade e viajo para outros espaços, fantásticos, divertidos.
Neste ínfimo ponto da blogosfera, faço a minha terapia de renovação de saberes, opiniões e perspectivas. Pena é não ter mais tempo para fazer mais posts.
A todos aqueles que têm passado por aqui, comentando ou não, o meu MUITO OBRIGADA!




Em certa ocasião alguém perguntou a Galileu Galilei:
- Quantos anos tens?
- Oito ou dez, respondeu Galileo, em evidente contradição com sua barba branca.
E logo explicou:
-Tenho, na verdade, os anos que me restam de vida, porque os já vividos não os tenho mais.


imagem e itálico da net

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Palavras de Abril (1)


Arte Poética

Que o poema tenha carne
Ossos, vísceras, destino,
Que seja pedra e alarme
Ou mãos sujas de destino

Que venha, corpo e amante,
e de amante seja irmão
que seja urgente e instante
como um instante de pão

Só assim será poema
Só assim será razão
Só assim te vale a pena
Passá-lo de mão em mão

Que seja rua ou ternura
Tempestade ou manhã clara
Seja arado e aventura
Fábrica terra e seara

Que traga ruas e vinho
Berços, máquinas, luar,
Que faça um barco de pinho
E deite um barco ao mar.

José Jorge Letria


Imagem: recorte de jornal do meu baú

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Páscoa


A todos os Amigos e Visitantes desejo uma
PÁSCOA FELIZ!


Na minha cidade de Olhão, debruçada sobre a Ria Formosa, as tradições já não são o que eram, como aliás quase em toda a parte. No entanto, algumas ainda persistem.

Pela Páscoa faz-se o Folar de Folhas





e arma-se a Vila de Amêijoas


Outras tradições se foram perdendo na pressa dos dias, nos horários de trabalho e nas modas, como o piquenique no Cerro da Cabeça, em Moncarapacho, que se fazia na 2ªFeira a seguir ao Domingo de Páscoa. Famílias e grupos de amigos espalhavam-se pelo Cerro, com o farnel e a música e ali passavam o dia. Cada terra com seu uso...

NON EST HIC

Pediram-lhe prodígios e benesses,
Como aos outros Rabis, ou feiticeiros.
Mas o pior foi que, sob esses,
Mataram seus milagres verdadeiros.

(…)

Na cruz infame O ergueram moribundo
Entre os dois justiçados desse dia.
Tremia a máquina do mundo
Quando, invocando o Pai, Ele desfalecia…

Tremia a máquina do mundo, e trevas
Caíram sobre a terra, e o sol baixara,
Quando Ele se extinguiu, perante as levas
Da soldadesca ignara.

Espetaram-lhe a lança, - estava morto,
Sangue manou, com água, dessa chaga…
Mas o pior é que, para nosso conforto,
Já tudo a Pia de água benta alaga!

No sepulcro O fecharam, e lhe deram
Guardas, - para impedir a sua Ressurreição.
Nada os guardas fizeram,
Que adormeceram, e Ele abriu a pedra do caixão.

Mas o pior foi que, ressuscitado,
Depois das mil sessões dum Teológico Processo,
Fizeram de Ele um Trino abstracto e complicado,
Ou um coração-de-Jesus gesso.

(…)

Mas o pior foi quando, não descrentes,
Sobre dogmas e incenso O ergueram no seu sólio,
E, nos degraus sentando-se, imponentes,
Fizeram de Ele monopólio.

Perdoa-lhes, Jesus! Não sabem o que fazem.
Rodam em dédalos sem fulcro…
Ou nunca mais virás, aos limbos em que jazem,
Quebrar, não já o teu, mas sim o seu sepulcro.

José Régio

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Palavras de Abril

E já é Abril. E já lá vão 35 anos. Muitas coisas já não fazem sentido. Mas muitas mais coisas ainda fazem muito sentido...
Como na memória do passado se desenha o presente e se perspectiva o futuro, vou chamar para aqui as palavras e os poemas de Abril. Começo com

Canção do Vento
Francisco Fanhais
O sol se levanta e se põe
O vento gira e sopra, sopra e vem
O rio ao mar e o mar não enche
E tu só queres agarrar o vento.
Olhei o que se faz debaixo do sol
Tudo é vaidade e tempo perdido
O que falta contar não se pode
E tu só queres agarrar o vento.
Há tempo para tudo na terra
Tempo para nascer, tempo para morrer
Matar, destruir e chorar
Viver, construir e sorrir
Gemer, beijar e perder
Dançar, encontrar e amar
Para a guerra e para a Paz
E tu só queres agarrar o vento
(Bíblia/adap. Pedro Lobo Antunes)
Fonte: Cancioneiro de Abril
org. João Viale Moutinho