segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Homem das Castanhas

Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.

É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.

A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.

Letra: Ary dos Santos
Canta: Carlos do Carmo

13 comentários:

Mare Liberum disse...

Ainda os há por aqui. Muitos! Sem eira, nem beira, nem guarida. Como é injusta a vida!
Ary dos Santos e a sua sensibilidade única. Apaixonante.

Beijinhos

Bem-hajas!

lagartinha disse...

Gosto mais de castanhas cozidas, com erva doce...nham nham...
Beijinhos verduscos

São disse...

Aprecio castanhas, mas adoro batata doce assada...

Bom apetite...quer dizer, boa semana, rrss

José Lopes disse...

Acabei de comer umas castanhas com uma garrafa de água-pé à vista, só me faltava mesmo ler o Ary.
Cumps

Jorge P. Guedes disse...

Muito giro mas agora um pouco desajustado.
Com a dúzia a 2 euros (paguei eu no começo da temporada por uma dúzia de castanhas mirradas à porta do Hospital dos Capuchos) não acredito que "o homem das castanhas não tenha eira nem beira".
Ah! E os cartuchos "pardos" foram proibidos! Agora, a embalagem é outra, mais à la U.E., OLARÉ!...

UM GRANDE ABRAÇO E DESCULPE ESTA BRINCADEIRA, mas já já me vai conhecendo e perdoa-me estas infantilidades, estou certo.

Tenha uma óptima(modernamente sem "p") semana.

Jorge P. Guedes disse...

Um abraço e saudades.

Jorge P. Guedes disse...

Olá esperança!

Passei hoje e deixo um abraço.

José Lopes disse...

Boa semana.
Cumps

Jorge P. Guedes disse...

Vim comer umas castanhinhas e saio consolado.

Um abraço, Esperança.

Jorge P. Guedes disse...

Não sei a que se deve tão parca produção, mas lamento.

Deixo, então, um abraço e desejos de muita saúde e uma semana boa.

Anónimo disse...

grande foto e grande poema ests senhor era muito querido na cidade do porto rosto das amarguras da vida

Unknown disse...

Uma poesia muito bonita... Ary dos Santos em parceria com Paulo de Carvalho tornaram esta poesia emm uma música muito linda ... E Nilton César ( 1980 ) teve o prazer de gravar em um compacto duplo Volte pra mim. O H.das Castanhas, Tanto tempo faz e meu violão é você !... Pena que só tenho no compacto e meus tocas vénios todos pifados !... já tentei ouvir com esse cantor Carlos.

Unknown disse...

Uma poesia muito bonita... Ary dos Santos em parceria com Paulo de Carvalho tornaram esta poesia emm uma música muito linda ... E Nilton César ( 1980 ) teve o prazer de gravar em um compacto duplo Volte pra mim. O H.das Castanhas, Tanto tempo faz e meu violão é você !... Pena que só tenho no compacto e meus tocas vénios todos pifados !... já tentei ouvir com esse cantor Carlos.