sexta-feira, 22 de maio de 2009

A Paixão da Leitura

Ainda não me recompus totalmente do estado de êxtase em que fico sempre que tenho de utilizar o Manual do Aplicador. Ter nas mãos um guião deste teor, que nos ausenta e isenta de preocupações de interpretação ou explicação e que nos coloca num papel de personagem central de um monólogo, representa o corolário das aspirações de quem sonha com a metafórica realidade profissional adaptada aos palcos da vida. Com ele e através dele, realizo-me no acto da leitura, pura, sem artifícios, que serve, na estrita medida, os fins a que se destina. Acho que é obra única, pois não tenho conhecimento que haja algo de semelhante em outras profissões ou áreas… a não ser os missais litúrgicos da religião católica.
Bem, agora que partilhei nestes poucas linhas o que me ia cá dentro, já me sinto mais aliviada! Creio que já recuperei a energia que tardava em reacender e que muita falta me vai fazer. É que eu sou uma moça de emoções fortes: vivo-as intensamente e desgastam-me na mesma proporção. Depois tenho que partir para uma reciclagem mental e sacudir os pensamentos que porventura venham eivados de ressentimentos antigos e degustações dolorosas. É um círculo. São ciclos contínuos.
Assim, feita esta catarse, liberto-me e fico prontinha para assimilar, nas próximas semanas, outra obra de grande valor intrínseco: o Manual do Corrector!

domingo, 17 de maio de 2009

Letras de Futebol

Não vou muito à bola com o futebol, mas como o meu amigo João André ainda me me marcava um grande fora de jogo se não falasse disto, cá vai!O Sporting Clube Olhanense subiu à Primeira Divisão (acho que ainda é assim). Grande Clube nacional em épocas recuadas, andou arredado da ribalta futebolística durante 36 anos!
Para celebrar este feito, recordo a grande equipa dos anos quarenta, na pena de um autor olhanense, Leonel Maria Baptista:



Isso porque
O Sporting Clube Olhanense,
além do seu recente passado glorioso,
possuía nessa época
uma equipa de grande expressão,
cujo futebol arte
-duma beleza sem igual-
fazia enorme sensação
Pelos estádios de Portugal…
E ganhar-lhe no seu reduto
não representava para qualquer “onze”
- nem mesmo considerado grande –
uma tarefa comesinha,
a não ser quando facilitada
por juízes corruptos ou à toa
como o famigerado Palhinha
a quem o Joaquim Paulo
quase fez engolir o apito
numa partida com o “Sporting de Lisboa”.
Era, de facto, um grupo aguerrido e valoroso
Esse Olhanense dos meus tempos de menino
Cuja retaguarda
A todos entusiasmava e fazia vibrar com:
As sensacionais defesas do Abraão;
As cabeças em mergulho
Do João Rodrigues – “O Submarino” –
E as vigorosas entradas do Nunes – “O Ginjão” –.
Se a defensiva desse “onze" glorioso
Era firme e valente,
Não o era menos
O trio dinâmico e voluntarioso
Posicionado à sua frente,
em que, recuado no centro,
actuava o destemido e elástico Loulé,
a quem a moçanhada chamava
de “Boneco do borracha
pois mal caía no chão
logo se punha de pé
prontinho para o vai ou racha…
Os outros dois integrantes do trio
- que pugnavam mais avançados
Na área intermédia de disputa –
Eram:
O excelente e denodado Grazina
- um grande e incansável guerreiro
Que jamais se negava à luta –
E o calmo e pendular João dos Santos
Que sempre se dava ao jogo por inteiro.
Era, todavia, a linha atacante
A que aos adeptos mais empolgava,
Quer pela enorme capacidade operante,
Quer pelo futebol alegre e vistoso
Que tão primorosamente praticava.


Jogadas de categoria extra,
Só próprias de grandes virtuosos,
Como tantas, de enorme tecnicismo e beleza,
Do Joaquim Paulo e do João Palma.

Tanto assim era
Que o Cabrita e o Salvador,
Dois goleadores eméritos,
Chegaram a envergar a “camisa das quinas”
Não, como tantos outros, por favor,
Mas por reais e reconhecidos méritos
Que também eram apanágio
do Palmeiro e do Moreira,

Quando esse grupo fabuloso ganhava,
O que era absolutamente normal,
Todos se sentiam invadidos
Por uma enorme alegria
Que a moçanhada exteriorizava
Com calorosos joguinhos de bola
Até escurecer o dia.

Como eles
Eu também joguei à bola
Pelos campos e larguinhos de Olhão,
Desde o Largo do Zé do Cerro até ao da Feira

Porque para mim, jogar futebol
Era apenas a minha melhor brincadeira.

foto - Raminhos Pinho, SCO, 90 Anos de História
Texto: Leonel Maria Baptista, A Vila de Olhão da Minha Recordação


quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sorriso de alegria...

Depois de alguns dias em baixo de forma e de algumas tentativas de reanimação moral e física, aqui deixo uma notícia que me deixou com um sorriso de orelha a orelha:

História de Olhão vai ser editada em BD
A obra foi criada por José Garcês, histórico da BD nacional
“História de Olhão em BD”, assim se vai chamar a obra de banda desenhada da autoria de José Garcês editada pelo Município de Olhão. Com lançamento marcado para o próximo dia 18 de Maio, às 19h00, na Biblioteca Municipal de Olhão, este livro surge no âmbito das comemorações dos 200 anos da elevação de Olhão a Vila e da revolta contra as tropas napoleónicas.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Rir

No meio de tantos dias Internacionais, Mundiais, Nacionais e Locais, que celebram tudo e mais alguma coisa, há um em particular que me muito me apraz e que registo com satisfação. Foi comemorado ontem. Falo do Dia Mundial do Riso.
Sim, ontem foi dia de rir, rir, rir muito. De quê? Amigos, de tudo, a começar de nós próprios.
Embora a sabedoria popular nos diga que muito riso pouco siso ou o rir ou o zombar não há-de passar de brincar, ela também reconhece que a rir muitas verdades se dizem e que tristezas não pagam dívidas.
Aqui há uns anos trabalhei com uma senhora natural do norte da Europa que apontava como razão principal da sua fixação no nosso país o facto de sermos risonhos e bem dispostos, coisa que não acontecia no seu país de origem onde, segundo ela, as pessoas eram, no geral, sombrias e pouco dadas ao riso. Porém, há outros povos que o exaltam como forma de manter o corpo e a mente em bom estado de consumo: rir mexe com dezenas de músculos e alivia as preocupações e tensões diárias. Era neste argumento que se baseava o dr. Louro, quando nos fazia dar umas boas gargalhadas no início de cada aula de teatro.
Presentemente, com a crise económica, o desemprego galopante e a gripe A , não temos muitos motivos para rir ou sorrir sequer, mas, mesmo assim, não conseguimos apagarmo-nos de todo. As televisões frequentemente nos presenteiam com apanhados de situações risíveis ou ridículas, os cartoonistas dos jornais fixam no papel algum momento político que nos faz sorrir e, em último caso, temos sempre à mão aquele amigo impagável que tem um anedotário em três volumes e o despeja com a bica da manhã.
Rir faz bem. Eu rio muito. Às vezes até às lágrimas. Porque o choro e o riso têm uma fronteira ténue e se o poeta já dizia que ria para não chorar, então rir é a melhor alternativa.


Gargalhada
Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira,
e escuta o ritmo
e o som da minha gargalhada:
Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!
Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármore baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...
O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.
Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trémulas...
Escuta bem:
Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!
Só de três lugares nasceu até hoje esta música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.
Cecília Meireles, in 'Viagem'

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Outras Palavras

Cantiga de Maio

Trago dentro da garganta
As letras do teu nome
Quando um homem se levanta
Grita fúria em vez de fome
Só a força das palavras
Fez do medo esta verdade
Quando é teu o chão que lavras
O arado é liberdade

Meu país vontade corcel de saudade vencida
Meu povo em viagem ganhando a coragem perdida
Meu trigo meu canto meu maio de espanto doendo
Meu abril tão cedo tão tarde meu medo morrendo
Meu amor ausente meu beijo por dentro queimado
Num tempo tão lento tardamos no vento até quando
Até quando?

Trago as palavras desertas
Na canção que eu inventei
E nas duas mãos abertas
Estas veias que rasguei
Por isso o meu sangue corre
Na seiva da primavera
Sou um homem que não morre
Sou um povo que não espera

Meu país vontade corcel de saudade vencida
Meu povo em viagem ganhando a coragem perdida
Meu trigo meu canto meu maio de espanto doendo
Meu abril tão cedo tão tarde meu medo morrendo
Meu amor ausente meu beijo por dentro queimado
Num tempo tão lento tardamos no vento até quando
Até quando?

Joaquim Pessoa