sábado, 21 de março de 2009

Dia da Poesia

Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu?
Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais.
Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia.
Isso fica para os críticos e professores.
Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é a poesia. (Garcia Lorca)

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Tempo de Poesia

Todo o tempo é de poesia

Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que a amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.

António Gedeão


Soneto imperfeito da caminhada perfeita

Já não há mordaças,nem ameaças,nem algemas
que possam perturbar a nossa caminhada,
em que os poetas são os próprios versos dos poemas
e onde cada poema é uma bandeira desfraldada.

Ninguém fala em parar ou regressar.
Ninguém teme as mordaças ou algemas.
- O braço que bater há-de cansar
e os poetas são os próprios versos dos poemas.

Versos brandos...Ninguém mos peça agora.
Eu já não me pertenço: Sou da hora.
E não há mordaças,nem ameaças,nem algemas

que possam perturbar a nossa caminhada,
onde cada poema é uma bandeira desfraldada
e os poetas são os próprios versos dos poemas.

Sidónio Muralha



Afirmas que brigámos

Afirmas que brigámos. Que foi grave.
Que o que dissemos já não tem perdão.
Que vais deixar aí a tua chave
e vais à cave içar o teu malão.

Mas como destrinçar os nossos bens?
Que livro? Que lembrança? Que papel?
Os meus olhos, bem vês, és tu que os tens.
Não te devolvo - é minha - a tua pele.

Achei ali um sonho muito velho,
não sei se o queres levar, já está no fio.
E o teu casaco roto, aquele vermelho
que eu costumo vestir quando está frio?

E a planta que eu comprei e tu regavas?
E o sol que dá no quarto de manhã?
É meu o teu cachorro que eu tratava?
É teu o meu canteiro de hortelã?

A qual de nós pertence este destino?
Este beijo era meu? Ou já não era?
E o que faço das praias que já não vimos?
Das marés que estão lá à nossa espera?

Dividimos ao meio as madrugadas?
E a falésia das tardes de Novembro?
E as sonatas que ouvimos de mãos dadas?
De quem é esta briga? Não me lembro!


Rosa Lobato Faria

17 comentários:

Mare Liberum disse...

A poesia faz-me falta todos os dias.E agora no teu blogue acabei de saciar-me com os poemas excelentes cuja leitura nos acabas de proporcionar.

Bem-hajas, amiga e colega!

Bjinhos muitos

rendadebilros disse...

Aqui , um tempo igualmente fenomenal... ( dizem que a chuva faz falta e tal e coisa, mas hoje não é dia para pensar nisso...) bonito , bonito...

rendadebilros disse...

Ah os poemas deliciosamente escolhidos...
Bom domingo!

Jorge P. Guedes disse...

Como sabe, para mim não há "dias de".

A poesia existe e escreve-se todos os dias, mesmo quando a não vemos nem escrevemos.

Um abraço.

o escriba disse...

Isamar

Ando a descobrir Rosa Lobato Faria, pelo que também me deliciei!

bjinhos
Esperança

o escriba disse...

rendadebilros

O tempo continua encantador, todo ele poesia que nos enche a alma.

bjinhos
Esperança

o escriba disse...

Jorge

Basta olhar à nossa volta com os olhos da alma para termos a poesia de que necessitamos e gostamos.

Um abraço
Esperança

vieira calado disse...

Umas belas homenagens!

Conheci pessoalmente
o Sidónio Muralha.
Tem contos belíssimos também.
Cedo foi para o Brasil e aí veio a falecer.

Um abraço

Jorge P. Guedes disse...

Deixo hoje, apenas, um abraço.

o escriba disse...

Vieira Calado

Também conheço alguns escritos de Sidónio Muralha e aprecio muito.

Um abraço
Esperança

o escriba disse...

Um abraço de grande estima também para si, amigo Jorge!

Esperança

Zé Povinho disse...

Passei por aqui no Dia do Teatro, saí com poesia nos ouvidos.
Abraço do Zé

o escriba disse...

Zé Povinho

A falta de tempo fez com que passasse por cima do Dia do Teatro. Resta a poesia para abrilhantar os dias. Obrigada.

Um abraço
Esperança

Jorge P. Guedes disse...

Deixo o meu abraço domingueiro.

o escriba disse...

Jorge

E eu desejo-lhe uma boa semana de trabalho que se perspectiva repleta de papéis!

Um abraço
Esperança

Mariazita disse...

Fazendo de “pombo-correio”, e seguindo a lista de comentadores da Líria...venho entregar uma cartinha dela.

Beijinhos
Mariazita

Querida(o) amiga(o)
Vou viajar, viagem de fim de curso. Era minha intenção postar um poema, agora que estou de férias, mas não tenho hipótese, o tempo não dá mesmo.
Pedi à Mariazita para o fazer por mim. O poema fui eu que escolhi. É duma poetisa muito pouco conhecida, Maispa Luz, de cujos poemas gosto muito. Este é um dos meus preferidos. Ela escreveu um outro de que também gosto muito, uma conversa entre um feto (humano) e sua mãe. É lindo! Estive hesitante, mas optei por este. O outro fica para outra vez.
Vou deixar este “comunicado” com a Mariazita, que o fará chagar até você.
Espero divertir-me muito nesta viagem, e quando regressar encarar o terceiro período com toda a garra.
Obrigada pelas visitas e comentários sempre tão amorosos que faz ao Lírios. Eu não tenho colaborado, mas acompanho…
Um beijo de muito carinho
Líria.

o escriba disse...

Mariazita

Muito agradeço a carta da Líria e o favor de a amiga a cá ter vindo deixar.
Desejo as maiores felicidades à Líria na sua viagem de fim de curso.

Tudo de bom para si
bjs
Esperança