Queixa-se a Igreja Católica de falta de seguidores e de vocações. Não admira. Milenar, a Igreja mais representativa dos ensinamentos de Cristo não tem evoluído ao ritmo dos Homens. Agarrada a dogmas e directivas inflexíveis, tem introduzido lentos sinais de mudança de atitudes e perspectivas. Mas as aberturas de visão não têm sido suficientes e intensivas junto das populações de modo a criar laços efectivos de segurança e apoio. Tem havido excepções, mas que não modificam a regra. Recordo, por exemplo, o reconhecimento da atitude indiferente da Igreja face ao problema dos Judeus durante a 2ª Guerra Mundial; a tentativa de João Paulo II em aproximar todas as religiões; o trabalho desenvolvido pelas Missões. Mas o que falta à Igreja Católica são os pormenores de actuação. E é isto que me traz aqui à conversa.
Ouvi nas notícias que, em comunicado, o Vaticano pede perdão para os que contribuíram para a morte da italiana Eluana, e lamenta não se ter salvo uma vida. Contextualizada na sua visão dogmática de que só Deus dá a Vida e só Deus a tira, a comunicação até faz sentido. Mas poder-se-ia chamar Vida ao estado da infeliz mulher? Como poderia a jovem celebrar os dons de Deus se vegetava num corpo sem sopro, ligado a máquinas? Como se poderia salvar uma vida, se já não existia vida? Eu sei que isto é muito complicado e polémico. Sou mãe e avó. Mas se até os próprios pais clamavam por este momento em nome de um amor profundo de quem lhe deu vida, de quem cuidou, de quem educou e formou.
Na minha opinião, isto tem pouco a ver com a morte assistida, cuja discussão tem sido relançada ultimamente com os casos noticiados, um dos quais acompanhado em directo, com as despedidas da família e do doente. Não, o caso da Eluana é diferente. Aqui outras questões se põem e não creio que a Igreja Católica seja concordante. Falo do espírito. Falo da essência que dá vida a um corpo. Falo da liberdade do espírito da jovem mulher. De um espírito, que embora já não a habitasse, se mantinha junto dela sem possibilidades de evoluir, de seguir o caminho. Este acto que ontem foi realizado, não foi o descerrar de um pano de cena, foi antes um abrir as janelas para a liberdade, para a esperança, para a luz. Mas isto não aceita a Igreja Católica.
10 comentários:
Um tema muito pertinente que voltarei para comentar. Pergunto: viver em estado vegetativo durante dezassete anos é viver? Quem a teria amado mais do que os pais?
Voltarei, amiga.
Bjinhos mil
Esperança
Tinha aqui um belo de um comentário, mas cheguei a meio e fui avisada que já não tinha espaço para escrever...como não consigo transmitir o que penso por poucas palavras nem aos bochechos, espero poder dizer-lhe o que penso, nem que seja por uma simples carta escrita à mão, só para ver se alguém concorda comigo...
Adoro vir aqui
Beijinhos
Cata-Vento
O espírito habita o corpo visível. Interagem e há vida. Quando o corpo físico morre, o espírito liberta-se. Se o corpo físico não reage a esta interacção, o espírito fica incapaz não só de cumprir a sua missão como de libertar-se totalmente.Não existe Vida no sentido pleno do termo.
Eluana não vivia. O estado de Eluana não era Vida.
Sei que isto tudo é muito polémico, controverso, talvez até apaixonante. Não sei se é uma questão de perspectiva ou de fé.
bjinhos
Esperança
Ana Lagartinha
Escreva as caixas de comentários que quiser, divida o seu comentário em partes, como quiser, mas a sua opinião é importante para mim.
bjinhos
Esperança
Tenho muita dificuldade em comentar as atitudes da igreja, porque só conheço os argumentos dos homens que se dizem seus representantes, e isso faz toda a diferença.
Cumps
È bem evidente que, convicções de fé à parte, a Igreja como instituição, tem cristalizado em posições dogmáticas que a estão a afastar gradualmente do caminho dos homens.
Quanto à questão da Eluana e da eutanásia, considero que são delicadas e não admitem raciocínios básicos e lineares.
Para mim, é essencialmente um problema a ser tratado na intimidade familiar, que deverá ter a liberdade de decidir responsavelmente, sem que haja pressões quer políticas quer religiosas.
Quando muito, é pertinente um aconselhamento médico e científico que habilite as famílias a uma melhor decisão.
Guardião
Muito obrigada pelo seu comentário.
Um abraço
Esperança
António
Embora as leis sejam propostas por políticos, também sou da opinião que não deve haver quaisquer pressões para um assunto tão íntimo e privado como este. A decisão deverá ser sempre tratado na intimidade familiar.
Um abraço
Esperança
Absolutamente de acordo consigo.
Um abraço
Elvira
Obrigada pelo comentário.
bjs
Esperança
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