terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Vidas

Queixa-se a Igreja Católica de falta de seguidores e de vocações. Não admira. Milenar, a Igreja mais representativa dos ensinamentos de Cristo não tem evoluído ao ritmo dos Homens. Agarrada a dogmas e directivas inflexíveis, tem introduzido lentos sinais de mudança de atitudes e perspectivas. Mas as aberturas de visão não têm sido suficientes e intensivas junto das populações de modo a criar laços efectivos de segurança e apoio. Tem havido excepções, mas que não modificam a regra. Recordo, por exemplo, o reconhecimento da atitude indiferente da Igreja face ao problema dos Judeus durante a 2ª Guerra Mundial; a tentativa de João Paulo II em aproximar todas as religiões; o trabalho desenvolvido pelas Missões. Mas o que falta à Igreja Católica são os pormenores de actuação. E é isto que me traz aqui à conversa.
Ouvi nas notícias que, em comunicado, o Vaticano pede perdão para os que contribuíram para a morte da italiana Eluana, e lamenta não se ter salvo uma vida. Contextualizada na sua visão dogmática de que só Deus dá a Vida e só Deus a tira, a comunicação até faz sentido. Mas poder-se-ia chamar Vida ao estado da infeliz mulher? Como poderia a jovem celebrar os dons de Deus se vegetava num corpo sem sopro, ligado a máquinas? Como se poderia salvar uma vida, se já não existia vida? Eu sei que isto é muito complicado e polémico. Sou mãe e avó. Mas se até os próprios pais clamavam por este momento em nome de um amor profundo de quem lhe deu vida, de quem cuidou, de quem educou e formou.
Na minha opinião, isto tem pouco a ver com a morte assistida, cuja discussão tem sido relançada ultimamente com os casos noticiados, um dos quais acompanhado em directo, com as despedidas da família e do doente. Não, o caso da Eluana é diferente. Aqui outras questões se põem e não creio que a Igreja Católica seja concordante. Falo do espírito. Falo da essência que dá vida a um corpo. Falo da liberdade do espírito da jovem mulher. De um espírito, que embora já não a habitasse, se mantinha junto dela sem possibilidades de evoluir, de seguir o caminho. Este acto que ontem foi realizado, não foi o descerrar de um pano de cena, foi antes um abrir as janelas para a liberdade, para a esperança, para a luz. Mas isto não aceita a Igreja Católica.

10 comentários:

Mare Liberum disse...

Um tema muito pertinente que voltarei para comentar. Pergunto: viver em estado vegetativo durante dezassete anos é viver? Quem a teria amado mais do que os pais?

Voltarei, amiga.

Bjinhos mil

lagartinha disse...

Esperança
Tinha aqui um belo de um comentário, mas cheguei a meio e fui avisada que já não tinha espaço para escrever...como não consigo transmitir o que penso por poucas palavras nem aos bochechos, espero poder dizer-lhe o que penso, nem que seja por uma simples carta escrita à mão, só para ver se alguém concorda comigo...
Adoro vir aqui
Beijinhos

o escriba disse...

Cata-Vento

O espírito habita o corpo visível. Interagem e há vida. Quando o corpo físico morre, o espírito liberta-se. Se o corpo físico não reage a esta interacção, o espírito fica incapaz não só de cumprir a sua missão como de libertar-se totalmente.Não existe Vida no sentido pleno do termo.
Eluana não vivia. O estado de Eluana não era Vida.
Sei que isto tudo é muito polémico, controverso, talvez até apaixonante. Não sei se é uma questão de perspectiva ou de fé.

bjinhos
Esperança

o escriba disse...

Ana Lagartinha

Escreva as caixas de comentários que quiser, divida o seu comentário em partes, como quiser, mas a sua opinião é importante para mim.

bjinhos
Esperança

José Lopes disse...

Tenho muita dificuldade em comentar as atitudes da igreja, porque só conheço os argumentos dos homens que se dizem seus representantes, e isso faz toda a diferença.
Cumps

peciscas disse...

È bem evidente que, convicções de fé à parte, a Igreja como instituição, tem cristalizado em posições dogmáticas que a estão a afastar gradualmente do caminho dos homens.
Quanto à questão da Eluana e da eutanásia, considero que são delicadas e não admitem raciocínios básicos e lineares.
Para mim, é essencialmente um problema a ser tratado na intimidade familiar, que deverá ter a liberdade de decidir responsavelmente, sem que haja pressões quer políticas quer religiosas.
Quando muito, é pertinente um aconselhamento médico e científico que habilite as famílias a uma melhor decisão.

o escriba disse...

Guardião

Muito obrigada pelo seu comentário.

Um abraço
Esperança

o escriba disse...

António

Embora as leis sejam propostas por políticos, também sou da opinião que não deve haver quaisquer pressões para um assunto tão íntimo e privado como este. A decisão deverá ser sempre tratado na intimidade familiar.

Um abraço
Esperança

Elvira Carvalho disse...

Absolutamente de acordo consigo.
Um abraço

o escriba disse...

Elvira

Obrigada pelo comentário.

bjs
Esperança