Este ano a iniciativa continua, porque há vida para além da escola e da avaliação. A tertúlia deste mês terá a sua parte gastronómica e o tema é “O Beijo”. Livros, frases e opiniões darão o mote. Sendo as palavras como as cerejas e “no falar e no coçar, o preciso é começar”, antevejo uma sessão animada e agradável, de são convívio e libertador de tensões por demais conhecidas.
Não se sabe ao certo quando o Homem aprendeu o gesto de beijar mas os templos da Índia revelam cenas de beijos com 2500 anos.
Na Antiguidade, os guerreiros gregos e romanos beijavam-se no retorno dos combates. Era uma espécie de prova de reconhecimento. Mas foram os romanos que difundiram a prática. Distinguiam eles três tipos de beijos: o basium, era dado nos lábios, entre conhecidos de elevado estatuto social; o osculum, era dado na bochecha, entre amigos; e o saevium, era o beijo dos amantes. Os imperadores permitiam que os nobres mais influentes os beijassem nos lábios, e os menos importantes as mãos. Os súbditos podiam beijar apenas os pés.
Um dos beijos mais famosos do mundo ocidental foi o beijo de Judas Iscariotes, usado para trair Jesus antes da crucificação.
Outras culturas existem onde os beijos tomam formas estranhas, como entre os Inuit, em que beijar é esfregar os narizes. Em países como a Rússia, o beijo na boca é usado em cumprimentos formais entre homens. Também existem países onde é corrente cumprimentar com três beijos na face.
Simples cumprimento ou grande demonstração de afecto, o beijo é uma forma de comunicação, e por isso ele é figura presente em vários tipos de expressão.
O Cinema trouxe-nos cenas inesquecíveis de beijos: a despedida do par amoroso em Casablanca; o beijo entre o médico afro-americano e a rapariga branca da classe alta em Adivinha Quem Vem Jantar; a sequência final de Cinema Paraíso, ela mesma uma homenagem ao beijo no cinema; e mais recentemente , o beijo entre dois cowboys homossexuais em O Segredo de Brokeback Mountain.
A Música também é pródiga em celebrar o beijo. Quem não sabe trautear a Canção do Beijinho do Herman José ou o Solta-se o Beijo dos Ala dos Namorados?
Na Literatura, lembro A Bela Adormecida que desperta com o beijo do seu príncipe encantado e O Primeiro Beijo e Outros Contos (1989) de Clarice Lispector.
Na Poesia, o beijo é tema e assunto, é forma e conteúdo. Como a lista de exemplos seria infindável e esta conversa já vai longa, deixo um só exemplo, um bom exemplo:
Voz de incerteza, crença, negação,
Já minha voz é a voz de eu-multidão,
E é cada um de vós meu orador.
Beijo estas próprias mãos de salteador!
Carne de sacrifício e de expiação,
Já, no abraço da cruz da redenção,
Meu corpo redimido é redentor.
Beijo estes próprios pés que se extraviaram!
Já, sobre mim, meus Anjos desataram,
As fúrias do seu alto temor feroz.
Beijo o meu próprio sangue nas feridas!
Já, morrido esgotado de mil vidas,