sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O Beijo

Quando resolvi iniciar este meu espaço, estava em plena febre organizativa de uma tertúlia gastronómico-literária, iniciativa de um grupo de colegas dado aos bons paladares e às boas letras. Essas tertúlias centravam-se num autor ou num tema. Nessa altura, a minha era dedicada a Isabel Allende e delas falei em dois ou três posts.
Este ano a iniciativa continua, porque há vida para além da escola e da avaliação. A tertúlia deste mês terá a sua parte gastronómica e o tema é “O Beijo”. Livros, frases e opiniões darão o mote. Sendo as palavras como as cerejas e “no falar e no coçar, o preciso é começar”, antevejo uma sessão animada e agradável, de são convívio e libertador de tensões por demais conhecidas.


Ora então vamos lá dar um contributo.

Por definição, um beijo (do latim basium) é o toque dos lábios com qualquer coisa ou pessoa. Na cultura ocidental é considerado um gesto de afecto, amizade ou amor. Entre amigos, é utilizado como cumprimento ou despedida, entre amantes e apaixonados, como prova da paixão. Também pode significar reverência, por exemplo, quando se beija o anel do papa ou de membros da alta hierarquia da Igreja.

Não se sabe ao certo quando o Homem aprendeu o gesto de beijar mas os templos da Índia revelam cenas de beijos com 2500 anos.
Na Antiguidade, os guerreiros gregos e romanos beijavam-se no retorno dos combates. Era uma espécie de prova de reconhecimento. Mas foram os romanos que difundiram a prática. Distinguiam eles três tipos de beijos: o basium, era dado nos lábios, entre conhecidos de elevado estatuto social; o osculum, era dado na bochecha, entre amigos; e o saevium, era o beijo dos amantes. Os imperadores permitiam que os nobres mais influentes os beijassem nos lábios, e os menos importantes as mãos. Os súbditos podiam beijar apenas os pés.
Um dos beijos mais famosos do mundo ocidental foi o beijo de Judas Iscariotes, usado para trair Jesus antes da crucificação.
Na Idade Média, a saudação entre religiosos cristãos era o beijo de paz, que simbolizava a caridade.

Outras culturas existem onde os beijos tomam formas estranhas, como entre os Inuit, em que beijar é esfregar os narizes. Em países como a Rússia, o beijo na boca é usado em cumprimentos formais entre homens. Também existem países onde é corrente cumprimentar com três beijos na face.

Simples cumprimento ou grande demonstração de afecto, o beijo é uma forma de comunicação, e por isso ele é figura presente em vários tipos de expressão.

Na Escultura, Rodin gravou no mármore a volúpia de um beijo.

O Cinema trouxe-nos cenas inesquecíveis de beijos: a despedida do par amoroso em Casablanca; o beijo entre o médico afro-americano e a rapariga branca da classe alta em Adivinha Quem Vem Jantar; a sequência final de Cinema Paraíso, ela mesma uma homenagem ao beijo no cinema; e mais recentemente , o beijo entre dois cowboys homossexuais em O Segredo de Brokeback Mountain.

A Música também é pródiga em celebrar o beijo. Quem não sabe trautear a Canção do Beijinho do Herman José ou o Solta-se o Beijo dos Ala dos Namorados?

Na Literatura, lembro A Bela Adormecida que desperta com o beijo do seu príncipe encantado e O Primeiro Beijo e Outros Contos (1989) de Clarice Lispector.

Na Poesia, o beijo é tema e assunto, é forma e conteúdo. Como a lista de exemplos seria infindável e esta conversa já vai longa, deixo um só exemplo, um bom exemplo:
...........................
...........................
LEGIÃO
Beijo estes próprios lábios com amor!
Voz de incerteza, crença, negação,
Já minha voz é a voz de eu-multidão,
E é cada um de vós meu orador.


Beijo estas próprias mãos de salteador!
Carne de sacrifício e de expiação,
Já, no abraço da cruz da redenção,
Meu corpo redimido é redentor.

Beijo estes próprios pés que se extraviaram!
Já, sobre mim, meus Anjos desataram,
As fúrias do seu alto temor feroz.


Beijo o meu próprio sangue nas feridas!
Já, morrido esgotado de mil vidas,
Me ressuscito, imenso, em todos nós.
José Régio
Fonte: wikipedia; imagem:net

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Obrigada, Kaotica!

Prémio Dardos

O blog O Pafúncio atribuiu este magnífico prémio ao somadeletras.

Com o Prémio Dardos se reconhece o valor que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que em suma demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre as suas letras, entre as suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à web. Quem recebe o Prémio Dardos e o aceita deve:
- Escolher outros blogs a quem entregar o Prémio Dardos;
- Linkar o blog pelo qual recebeu;
- Exibir a distinta imagem.

Eu própria irei aos blogs distinguidos partilhar o prémio!

Gosto de Desafios!

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

Álvaro de Campos

O Miguel do blog http://umsonhochamadomatilde.blogspot.com/ lançou-me o desafio de apresentar 8 sonhos meus! Achei a ideia tão interessante, que até lhe copiei a imagem e a citação!

Pois aqui estão eles:

1- Ter uma neta (este está quase!)
2- Conhecer África
3- Ter uma casa com jardim
4- Aprender, finalmente, a tocar guitarra como deve ser
5- Ver baleias
6- Ser figurante na ópera "Aida"
7- Cantar com a Cesária Évora
8- Ir a Roma

domingo, 25 de janeiro de 2009

E continua António Gedeão

Gota de Água

Eu, quando choro,
não choro eu.
Chora aquilo que nos homens
em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
mas o choro não é meu.




Amostra sem valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

A foto, captei-a ao fim da tarde. Tem pouca qualidade porque utilizei o telemóvel.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Vida de Gato...

Poema do Gato

Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?

Sempre que pode
foge prá rua,
cheira o passeio
e volta pra trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva desesperada.

Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.

Quando abro a porta corre pra mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase,
ronronando.

Repito a festa,
vagarosamente.
Do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas.
E rosna. Rosna, deliquescente,
abraça-me e adormece.

Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?

António Gedeão
foto minha

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Momentos da História


We the people of the United States, in order to form a more perfect Union, establish Justice, insure domesticTranquility, provide for the common defence, promote the general Welfare, and secure the Blessing of Liberty to ourselves and our Posterity, do ordain and establish this Constitution for the United States of America. (Preâmbulo da Constituição dos Estados Unidos da América).

Assim começa o texto da Constituição dos Estados Unidos da América, a que Barak Obama irá jurar fidelidade.
Os olhos do mundo inteiro estão postos na cerimónia que hoje decorre, porque dela advirão ventos de mudança. Não só porque o presidente eleito representa uma perspectiva política diferente da administração anterior, mas porque é o primeiro presidente negro na história do país mais poderoso do mundo.
Alterar o rumo da crise económica e financeira e da posição militar nos países do médio oriente em conflito são os propósitos primeiros desta nova era da governação americana. Outros propósitos estão traçados, apoiados em expressões como “Yes, we can!” e “Hope”. É um tempo de mudança e de esperança. O Futuro nos dirá se é a realização colorida de um sonho a preto e branco verbalizado por Marthin Luther King em 28 de Agosto de 1963.

"Eu estou contente em unir-me a vós no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história da nossa nação. Há cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob a sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação.(…)
Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranquilizante do gradualismo. (…) Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.(…)
Eu digo-vos hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.Eu tenho um sonho, que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado da sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos – de que os homens são criados iguais. (…)Eu tenho um sonho, que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta. Esta é nossa esperança. (…)”
foto da net

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Descobrindo ...Mario Quintana


ESPERANÇA

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Um recente amigo fez-me chegar às mãos estas letras de um poeta que eu não conhecia.
Então fui descobri-lo.


Mário Quintana (Alegrete, 30 de julho de 1906 — Porto Alegre, 5 de maio de 1994) foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro.
Em 1940 lançou o seu primeiro livro de poesias, A Rua dos Cataventos, iniciando a sua carreira de poeta, escritor e autor infantil, que se prolongaria por mais de cinquenta anos.
Foi por diversas vezes galardoado com prémios literários.
Traduziu, também, mais de cento e trinta obras da literatura universal, entre elas Em busca do tempo perdido de Marcel Proust, Mrs. Dalloway de Virginia Woolf, e Palavras e sangue, de Giovanni Papini.

Considerado o poeta das coisas simples e com um estilo marcado pela ironia, profundidade e perfeição técnica, é assim que ele descreve a sua poesia:
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Verissimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.
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Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel...
Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!
Fonte: wikipedia; projeto releituras

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Frio, Frio!!!

Brrr!!! Nestes últimos dias o frio visitou-nos impiedosamente! Uma frente polar obrigou-nos a tirar do guarda-fatos os cachecóis mais lãzudos e as luvas mais peludas para complementar os casacos compridos e os sobretudos.
Aqui na orla marítima do Sul, embora o mês de Janeiro seja pródigo em frios e geadas matinais, sai um pouco dos hábitos andarmos tão encasacados de manhã à noite, fora e dentro de casa.
O Norte tem-se coberto de mantos brancos, belos, sem dúvida, mas causadores de algumas perturbações. Portugal tem um clima ameno, e ainda que nas terras altas do interior haja quedas de neve no Inverno, as estruturas, urbanísticas, sociais ou outras não são de molde a fazer desta situação uma banalidade, como em outras zonas da Europa.
De qualquer modo, com mais ou menos perturbação, com mais ou menos bater de dentes, o espectáculo da neve atrai-nos, e muitos acolhem-na com brincadeiras, festejando a sua maciez e brancura.

foto retirada de http://www.iol.pt/

E como a conversa é sobre neve, recordo a

Balada da neve

Batem leve, levemente,

como quem chama por mim.

Será chuva? Será gente?

Gente não é, certamente

e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:

mas há pouco, há poucochinho,

nem uma agulha bulia

na quieta melancolia

dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,

com tão estranha leveza,

que mal se ouve, mal se sente?

Não é chuva, nem é gente,

nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía

do azul cinzento do céu,

branca e leve, branca e fria...

- Há quanto tempo a não via!

E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.

Pôs tudo da cor do linho.

Passa gente e, quando passa,

os passos imprime e traça

na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais

da pobre gente que avança,

e noto, por entre os mais,

os traços miniaturais

duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...

a neve deixa inda vê-los,

primeiro, bem definidos,

depois, em sulcos compridos,

porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador

sofra tormentos, enfim!

Mas as crianças, Senhor,

porque lhes dais tanta dor?!...

Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,

uma funda turbação

entra em mim,

fica em mim presa.

Cai neve na Natureza

- e cai no meu coração.

Augusto Gil

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Estrela precisa-se


Cada esperança é uma estrela

Com um gesto
ou um risco
muda a geografia
muda o leito do rio
e o destino é cisco
que flutua
nas águas represadas.
Não grito nem resisto.
Minha voz cansada
flutua no ar,
abafada pela multidão
solidária
que me devolve a solidão
das noites sem destino.
No meu universo de exilados
cada esperança é uma estrela
solitária
que precede
os três Reis Magos.

Ruy Pereira e Alvim

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Novo Ano

2008 acabou. Viva 2009!
Mais um ano, mais um ciclo que começa. Vão suceder-se os dias e as noites, as quatro estações, as fases da Lua. A vida segue.
Os Homens fazem votos de saúde, prosperidade e paz. Sempre, a cada ano que se avizinha. Desejar é bom. É sinal de esperança. Mas até que ponto esses votos, esses desejos , não se tornaram já rotina? Em que medida esses desejos reflectem sinceridade? Cada um por si deseja o melhor. Mas, no colectivo, luta por um porvir melhor?
A violência, as guerras, as fomes, o desperdício, a insensatez, o preconceito, a injustiça e a ambição desmedida continuam a assolar esta Terra cada vez menos azul, cada vez menos verde.
É urgente repensar, não no que se deseja mas no que se pode fazer para conseguir o que se deseja.
É urgente perspectivar o futuro, valorizando os pequenos gestos, as pequenas palavras, as pequenas acções.
É urgente dar mais do que se recebe.
É urgente crescer.


POEMA DA PAZ

O dia mais belo? Hoje.

A coisa mais fácil? Equivocar-se.

O obstáculo maior? O medo.

O erro maior? Abandonar-se.

A raiz de todos os males? O egoísmo.

A distracção mais bela? O trabalho.

A pior derrota? O desalento.

Os melhores professores? As crianças.

A primeira necessidade? Comunicar-se.

O que mais faz feliz? Ser útil aos demais.

O mistério maior? A morte.

O pior defeito? O mau humor.

A pessoa mais perigosa? A mentirosa.

O sentimento pior? O rancor.

O presente mais belo? O perdão.

O mais imprescindível? O lar.

A estrada mais rápida? O caminho correcto.

A sensação mais grata? A paz interior.

O resguardo mais eficaz? O sorriso.

O melhor remédio? O optimismo.

A maior satisfação? O dever cumprido.

A força mais potente do mundo? A fé.

As pessoas mais necessárias? Os pais.

A coisa mais bela de todas? O amor.

Madre Teresa de Calcutá

imagem da net