terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Adeus 2008! Viva 2009!

Para os Amigos e Visitantes

Ano Novo

O rei chegou
E já mandou tocar os sinos
Na cidade inteira
É pra cantar os hinos
Hastear bandeiras
E eu que sou menino
Muito obediente
Estava indiferente
Logo me comovo
Pra ficar contente
Porque é Ano Novo

Há muito tempo
Que essa minha gente
Vai vivendo a muque
É o mesmo batente
É o mesmo batuque
Já ficou descrente
É sempre o mesmo truque
E que já viu de pé
O mesmo velho ovo
Hoje fica contente
Porque é Ano Novo

Chico Buarque

sábado, 20 de dezembro de 2008

É Natal!

A Todos os Amigos e Visitantes
desejo um Natal cheio de Harmonia,
União, Paz e Amor



Natal, e não Dezembro

Entremos, apressados, friorentos,
Numa gruta, no bojo de um navio,
Num presépio, num prédio, num presídio,
No prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
Porque esta noite chama-se Dezembro,
Porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
Duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
A cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
Talvez seja Natal e não Dezembro,
Talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira, Cancioneiro do Natal


domingo, 14 de dezembro de 2008

Poema de Natal

FALAVAM-ME DE AMOR

Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,

menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.

Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Para ti, pai


O meu pai era um homem do mar. De baixa estatura e cabelo preto ondulado, tinha no brilho dos olhos a alegria de viver e um coração aberto a quem com ele se cruzava.
O Mar não tinha segredos para ele. Eram íntimos, mas havia um respeito tão grande como a imensidão azul. O mar reclamara-o algumas vezes mas, marítimo cheio de fé, soube sempre soltar-se dessa amarra feita de correntes e espuma.
Correu muitos mares e conhecia todos os faróis.Partiu cedo, há muitos anos.
O meu pai era um homem do mar. Chamava-se João e todos o conheciam por Mestre Búzio.
---------------------------------
---------------------------------
O Homem do Leme
Sozinho na noite
um barco ruma para onde vai.
Uma luz no escuro brilha a direito
ofusca as demais.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo do mar
jazem os outros, os que lá ficaram.
Em dias cinzentos
descanso eterno lá encontraram.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...

No fundo horizonte
sopra o murmúrio para onde vai.
No fundo do tempo
foge o futuro, é tarde demais...

E uma vontade de rir nasce do fundo do ser.
E uma vontade de ir, correr o mundo e partir,
a vida é sempre a perder...
Xutos & Pontapés

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Lembrar Florbela Espanca


Muito se tem escrito sobre Florbela Espanca. Da singularidade da sua obra poética. Do seu carácter, da sua inquietude, da sua melancolia. Não venho, por isso, acrescentar nada.
O que aqui trago é um olhar sobre um pormenor da sua vida.
Na Primavera/ Verão de 1918, Florbela veio para o Algarve tratar-se do grave problema de saúde que a apoquentava. “Veio atraída pelo clima ameno, dos ares puros e grande salubridade da orla marítima”.
Instalou-se em Quelfes, pequena freguesia do concelho de Olhão, na casa da cunhada Doroteia, professora primária na escola da aldeia.



Edifício da antiga escola primária de Quelfes

Mas “Florbela amava a cidade, o movimento, o reboliço, a sua roda de amigos (…)”, “era uma mulher de excepção, estranha à sociedade envolvente e com sérias dificuldades de adaptação a regras de conduta social, que se antepunham à sua intrínseca necessidade de libertação”. Assim, a sua passagem por Quelfes não se traduziu, de modo algum, em felicidade. “A solidão exasperante da aldeia atormentava o seu espírito sequioso de comunicação, carinho, afecto admiração…de fama , com a qual sempre sonhou, mas que só veio a obter depois da morte”.
“Foram seis meses de forçado sossego, algum marasmo e uma imensa solidão literária. Quase um degredo, com que se não compadecia o seu natural estado de espírito.”


Altiva e couraçada de desdém
Vivo sozinha em meu castelo, a Dor…
Debruço-me às ameias ao sol-pôr
E ponho-me a cismar não sei em quem!

Castelã da Tristeza, vês alguém?!...
-E o meu olhar é interrogador…
E rio e choro! É sempre o mesmo horror
E nunca, nunca vi passar ninguém!

-Castelã da Tristeza, porque choras,
Lendo toda de branco um livro d’horas
À sombra rendilhada dos vitrais?...

Castelã da Tristeza, é bem verdade,
Que a tragédia infinita é a Saudade!
Que a tragédia infinita é Nunca Mais!!!

No entanto, Florbela gostava do casario branco de Olhão, onde às vezes vinha, e de ver o pôr do sol na Ria Formosa.
“Existem sonetos que recordam esses momentos inesquecíveis, marchetados pela inebriante beleza de um sol refulgente, que empresta a este céu aquele azul extasiante que só os poetas sabem cantar. Escreveu-os em Quelfes, inspirada na tristeza da sua solidão acompanhada”.


É triste, diz a gente, a vastidão
Do Mar imenso! E aquela voz fatal
Com que ele fala, agita o nosso mal!...
E a Noite é triste, como a Extrema-Unção.

É triste e dilacera o coração
Um poente do nosso Portugal!
E não vêem que eu sou…eu…afinal,
A coisa mais magoada das que o são!

Poentes d’agonia tenho-os eu
Dentro de mim, e tudo quanto é meu
É um triste poente d’amargura!

E a vastidão do Mar, toda essa água
Trago-a dentro de mim num mar de Mágoa!
E a Noite sou eu própria, a Noite escura!

No dia 8 de Dezembro de 1930, Forbela Espanca libertou as amarras que a prendiam à desilusão na procura da felicidade, ao conflito interior. Completava nesse dia 36 anos, e, nas suas palavras, "Tudo será melhor do que esta vida!".

Fonte: "Florbela Espanca na Vila de Olhão", José Carlos Vilhena Mesquita, 1996


quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Assim dizemos

A língua portuguesa é rica em expressões idiomáticas. Trago aqui algumas.

Andar à toa
Significado: Andar sem destino, despreocupado, passando o tempo.
Origem: Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está “à toa” é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar.

Coisas do arco-da-velha
Significado: Coisas inacreditáveis, absurdas, espantosas, inverosímeis.
Origem: A expressão tem origem no Antigo Testamento; arco-da-velha é o arco-íris, ou arco-celeste, e foi o sinal do pacto que Deus fez com Noé: "Estando o arco nas nuvens, Eu ao vê-lo recordar-Me-ei da aliança eterna concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na terra." (Génesis 9:16)
Arco-da-velha é uma simplificação de Arco da Lei Velha, uma referência à Lei Divina.
Há também diversas histórias populares que defendem outra origem da expressão, como a da existência de uma velha no arco-íris, sendo a curvatura do arco a curvatura das costas provocada pela velhice, ou devido a uma das propriedades mágicas do arco-íris - beber a água num lugar e enviá-la para outro, pelo que velha poderá ter vindo do italiano bere (beber).

Cair da tripeça
Significado: Qualquer coisa que, dada a sua velhice, se desconjunta facilmente.
Origem: A tripeça é um banco de madeira de três pés, muito usado na província, sobretudo junto às lareiras. Uma pessoa de avançada idade aí sentada, com o calor do fogo, facilmente adormece e tomba.

Dar um lamiré
Significado: Sinal para começar alguma coisa.
Origem: Trata-se da forma aglutinada da expressão «lá, mi, ré», que designa o diapasão, instrumento usado na afinação de instrumentos ou vozes; a partir deste significado, a expressão foi-se fixando como palavra autónoma com significação própria, designando qualquer sinal que começo a uma actividade dê. Historicamente, a expressão «dar um lamiré» está, portanto, ligada à música (cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

Embandeirar em arco
Significado: Manifestação efusiva de alegria.
Origem: Na Marinha, em dias de gala ou simplesmente festivos, os navios embandeiram em arco, isto é, içam pelas adriças ou cabos (vergueiros) de embandeiramento galhardetes, bandeiras e cometas quase até ao topo dos mastros, indo um dos seus extremos para a proa e outro para a popa. Assim são assinalados esses dias de regozijo ou se saúdam outros barcos que se manifestam da mesma forma.

Erro Crasso
Significado: Erro grosseiro
Origem: Na Roma antiga havia o Triunvirato: o poder dos generais era dividido por três pessoas.
No primeiro destes Triunviratos, tínhamos: Caio Júlio, Pompeu e Crasso. Este último foi incumbido de atacar um pequeno povo chamado Partos.
Confiante na vitória, resolveu abandonar todas as formações e técnicas romanas e simplesmente atacar. Ainda por cima, escolheu um caminho estreito e de pouca visibilidade.
Os Partos, mesmo em menor número, conseguiram vencer os romanos, sendo o general que liderava as tropas um dos primeiros a cair. Desde então, sempre que alguém tem tudo para acertar, mas comete um erro estúpido, dizemos tratar-se de um "erro crasso".

Fazer tábua rasa
Significado: Esquecer completamente um assunto para recomeçar em novas bases.
Origem: A tabula rasa , no latim, correspondia a uma tabuinha de cera onde nada estava escrito.
A expressão foi tirada, pelos empiristas, de Aristóteles, para assim chamarem ao estado do espírito que, antes de qualquer experiência, estaria, em sua opinião, completamente vazio. Também John Locke (1632 1704), pensador inglês, em oposição a Leibniz e Descartes, partidários do inatísmo, afirmava que o homem não tem nem ideias nem princípios inatos, mas sim que os extrai da vida, da experiência.
«Ao começo», dizia Locke, «a nossa alma é como uma tábua rasa, limpa de qualquer letra e sem ideia nenhuma. Tabula rasa in qua nihil scriptum . Como adquire, então, as ideias? Muito simplesmente pela experiência.»

Fazer tijolo
Significado: Morrer.
Origem: Segundo se diz, existiu um velho cemitério mouro para as bandas das Olarias, Bombarda e Forno do Tijolo.
O almacávar, isto é, o cemitério mourisco, alastrava-se numa grande extensão por toda a encosta, lavado de ar e coberto de arvoredo.
Após o terramoto de 1755, começando a reedificação da cidade, o barro era pouco para as construções e daí aproveitar-se todo o que aparecesse.
O cemitério árabe foi tão amplamente explorado que, de mistura com a excelente terra argilosa, iam também as ossadas para fazer tijolo.
Assim, é frequente ouvir-se a expressão popular em frases como esta: “Daqui a dez anos já eu estou a fazer tijolo”.
in ‘Dicionário de Expressões Correntes’, Orlando Neves

Mal e porcamente
Significado: Muito mal; de modo muito imperfeito.
Origem: «Inicialmente, a expressão era "mal e parcamente". Quem fazia alguma coisa assim, agia mal e eficientemente, com parcos (poucos) recursos.
Como parcamente não era palavra de amplo conhecimento, o uso popular tratou de substituí-la por outra, parecida, bastante conhecida e adequada ao que se pretendia dizer. E ficou " mal e porcamente", sob protesto suíno.»1
1 in A Casa da Mãe Joana, de Reinaldo Pimenta, vol. 1 (Editora Campus, Rio de Janeiro)

Ter para os alfinetes
Significado: Ter dinheiro para viver.
Origem: Em outros tempos, os alfinetes eram objecto de adorno das mulheres e daí que, então, a frase significasse o dinheiro poupado para a sua compra porque os alfinetes eram um produto caro.
Os anos passaram e eles tornaram-se utensílios, já não apenas de enfeite, mas utilitários e acessíveis.
Todavia, a expressão chegou a ser acolhida em textos legais. Por exemplo, o Código Civil Português, aprovado por Carta de Lei de Julho de 1867, por D. Luís, dito da autoria do Visconde de Seabra, vigente em grande parte até ao Código Civil actual, incluía um artigo, o 1104, que dizia: «A mulher não pode privar o marido, por convenção antenupcial, da administração dos bens do casal; mas pode reservar para si o direito de receber, a título de alfinetes, uma parte do rendimento dos seus bens, e dispor dela livremente, contanto que não exceda a terça dos ditos rendimentos líquidos.»

Do Tempo da Maria Cachucha
Significado: Muito antigo.
Origem: A cachucha era uma dança espanhola a três tempos, em que o dançarino, ao som das castanholas, começava a dança num movimento moderado, que ia acelerando, até terminar num vivo volteio.Esta dança teve uma certa voga em França, quando uma célebre dançarina, Fanny Elssler, a dançou na Ópera de Paris.
Em Portugal, a popular cantiga Maria Cachucha (ao som da qual, no séc. XIX, era usual as pessoas do povo dançarem) era uma adaptação da cachucha espanhola, com uma letra bastante gracejadora, zombeteira.

fonte: recebido por e-mail