quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Alexandre O'Neill

«Há mar e mar, há ir e voltar»


Esta frase publicitária bem conhecida de todos é da autoria de Alexandre O'Neill.
Nascido em Lisboa em 19 de Dezembro de 1924 e falecido em 21 de Agosto de 1986, Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill de Bulhões, ou simplesmente Alexandre O'Neill, descendente de irlandeses, foi um importante poeta do movimento surrealista em Portugal e um dos fundadores do Grupo Surrealista de Lisboa.
A poesia de Alexandre O'Neill concilia uma atitude de vanguarda com a influência da tradição literária.
Os seus textos caracterizam-se por uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses, destruindo a imagem de um proletariado heróico criada pelo neo-realismo, a que contrapõe a vida mesquinha, a dor do quotidiano, vista no entanto sem dramatismos, ironicamente, numa alternância entre a constatação do absurdo da vida e o humor como única forma de se lhe opor. Temas como a solidão, o amor, o sonho, a passagem do tempo ou a morte, conduzem ao medo e/ou à revolta, de que o homem só poderá libertar-se através do humor, contrabalançado por vezes por um tom discretamente sentimental, revelador de um certo desespero perante o marasmo do país . Este humor é, muitas vezes, manifestado numa linguagem que parodia discursos estereotipados, como os discursos oficiais ou publicitários, ou que reflecte a própria organização social, pela integração nela operada do calão, da gíria, de lugares-comuns pequeno-burgueses, de onomatopeias ou de neologismos inventados pelo autor.
Escreveu diversos livros de poesia e publicou dois livros em prosa narrativa, um dos quais de crónicas.
Gravou o disco «Alexandre O'Neill Diz Poemas de Sua Autoria».
Recebeu, em 1982, o Prémio da Associação de Críticos Literários.

Fontes: wikipédia, www.astormentas.com
Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

8 comentários:

Isamar disse...

" Há palavras que nos beijam como se tivessem boca..." Assim sinto eu a poesia e particularmente este poema.Este género literário, que muita gente não aprecia, fascina-me desde miúda, tempo em que em casa se lia em voz alta enquanto outros ouviam atentamente essa leitura. Partiu cedo, o poeta. "Há mar e mar, há ir e voltar"

Bjinhos, amiga.

o escriba disse...

Isabel

Amiga, aproxima-nos estes géneros literários que pouca gente aprecia.
Obrigada!

bjinhos
Esperança

Pipinha disse...

Olá Esperança, obrigada pela visita ao meu cantinho e miminho deixado. Vim retribuir a visita e gostei muito das fotos, volto depois com mais calma para ler os textos.
Resto de boa semana com muito carinho, paz e alegria no coração.
Beijinhos.

peciscas disse...

O O´Neill foi uma poeta contra-corrente. Inquieto, por vezes truculento, mas sempre genial.
Quando eu era jovem estudante universitário, era um dos poetas que ecoava nas nossas vozes, com as palavras que prenunciava a liberdade que ansiávamos.
O Alexandre era, já, um dos percursores dessa liberdade.

o escriba disse...

pipinha

Obrigada pela sua visita e comentário. Gostei de descobrir o seu cantinho pois o que lá encontrei agradou-me muito.

bjs
Esperança

o escriba disse...

peciscas

A poesia do O'Neill é aquela loucura que todos temos um pouco cá dentro.
O poema "Gaivota", que Amália tão bem interpretou, é tam~bém um dos que gosto bastante.

Um abraço
Esperança

Jorge P. Guedes disse...

SEMPRE fui um grande apreciador da sadia loucura do Alexandre O'Neill, um dos últimos grandes boémios da nossa Lisboa alfacinha de gema.
Provou bem que os grandes estudos por si só não fazem os grandes pensadores, os artistas, os poetas... ele, que tinha grande aversão à escola.

Gostei de me reencontrar com O'neill neste seu tão agradável Soma de Letras.

Receba um abraço e os desejos de óptima semana.
Jorge P.G.

o escriba disse...

Jorge

Obrigada pelo seu comentário e pelas palavras simpáticas sobre o meu canto.

Uma boa semana para si também.
Um abraço
Esperança