domingo, 31 de agosto de 2008

Fim de Férias

Que me desculpem os meus amigos e visitantes masculinos, mas não resisto a apresentar esta carta de férias!

Querida:

Muito obrigado pela tua linda e carinhosa carta.
Podes ter a certeza de que eu sei tratar de mim, por isso, não te preocupes comigo.
Durante a tua ausência, não se tem passado nada de especial cá em casa.
Enquanto estás fora, tenho preparado o meu próprio almoço, e todos os dias me espanto de como tudo tem saído bem!...
Já que estou sempre com pressa, ontem decidi fazer batatas fritas. Já agora, diz-me uma coisa: era preciso descascar as batatas?
Enquanto estavam a fritar, aproveitei para ir buscar uns brioches à padaria. Quando voltei, o esmalte da frigideira tinha derretido. Nunca pensei que o estupor da frigideira aguentasse tão pouco. E tu que me dizias que oTeflon aguentava tudo e mais alguma coisa!
Já consegui tirar toda a fuligem da cozinha, mas o nosso gato Fred, é que ficou preto que nem um tição, e agora tosse o dia inteiro…
Desde esse dia entra em pânico e foge quando mexo nas panelas ou abro o bico do fogão.
Já que pelo menos uma vez por dia preciso de uma refeição mais elaborada, quando estou a fazê-la, o Fred dá 'às de Vila Diogo' e só aparece passadas umas horas ...
Diz-me outra coisa: quanto tempo é que é preciso para cozer os ovos?
Eu já os pus a ferver há duas horas, mas mesmo assim, continuam duros que nem uma pedra!
Também queria que me dissesses se se pode aproveitar leite queimado. Queres que o guarde na despensa até tu voltares?
Na semana passada tive um pequeno contratempo ao cozinhar umas ervilhas.
Vou-te contar: agarrei numa lata e decidi aquecê-la. Mas, infelizmente, explodiu dentro do microondas. A porta do microondas foi projectada para fora da cozinha e foi dar contra a nossa pequena estufa de inverno, que claro, ficou partida, assim como a janela. Como a janela estava fechada (preciso de a fechar antes de começar a cozinhar, senão os bombeiros aparecem outra vez), a porta do microondas arrancou-a também, tal foi a força. Por sua vez, a lata de ervilhas, parecia um foguete a levantar voo!... Atravessou o tecto e foi embater na filha do Freitas, o nosso vizinho de cima.
Parece-me que ela ficou bem…
Outra coisa: já te aconteceu a louça suja ficar com mofo?
Como é que isto se pode dar em tão pouco tempo?
Afinal, tu foste de férias no mês passado, mas parece que foi ontem!
Aliás, atrás do lava-louças há montes de bichos; daqui a pouco até vai dar para fazer um documentário e vendê-lo ao 'National Geographic'… De onde é que saíram tantos bichos cheios de pernas? Puseste alguma coisa que não devias lá atrás?
Bom, isto acabou por fazer com que eu tomasse uma atitude e lavasse a louça.
Por favor não me insultes, meu amor, mas aquele lindo serviço de jantar de porcelana da tua avó, já era… Eu realmente não contava com isso, afinal de contas parecia tão robusto e sólido!
Bom, talvez eu tenha exagerado um bocadinho ao pôr o lava-louças no 'programa completo com centrifugação'… Aliás, a máquina de lavar roupa também se escangalhou.
A faca de aço temperado que eu pus lá dentro, sem querer, estragou o cilindro durante a centrifugação, porque ficou presa na parede interna. Quanto ao cilindro, atravessou a parede de tijolos, fazendo um pequeno buraco, e foi aterrar no jardim.
Durante um dos almoços, sujei a carpete persa com molho de tomate.
Sempre me disseste que as manchas do molho de tomate são impossíveis de tirar.
Ficas a saber, meu amor, que com um bocadinho de aguarrás, sai tudo, mas mesmo tudo, inclusivamente, a lã e a seda da carpete.
O frigorífico estava a fazer muito gelo, por isso, tive que o descongelar.
Tenho que te ensinar uma coisa: o gelo sai facilmente se o raspares com uma espátula de pedreiro! Só não sei é porque é que agora passou a aquecer...
O iogurte, a água com gás e o champanhe, explodiram.
Sabes, querida, na passada quinta-feira, esqueci-me de, ao sair, fechar à chave a porta de casa.
Alguém deve ter entrado, porque faltam algumas coisas de valor, entre elas, aquele colar de marfim que o teu bisavô trouxe da expedição a África, no século XIX.
Mas, como tu costumas dizer, o dinheiro não dá felicidade, e tudo o que é material, é efémero.
O teu guarda-vestidos também está vazio, mas penso que não devem ter levado muita coisa, já que, sempre que saímos, tu dizes que não tens nada que vestir…
Bom, vou ficar por aqui, mas amanhã conto-te mais coisas!
Espero que te descontraias bastante no SPA e que gozes muito o teu descanso.
Beijos mil, com muito amor, do teu Afonso que muito te ama!!!

Beijos, do teu dedicado marido.

enviado por e-mail

sábado, 30 de agosto de 2008

Perspectivas

Barcos

"Nha terra é quel piquinino
É São Vicente é que di meu"

Nas praias
Da minha infância
Morrem barcos
Desmantelados.

Fantasmas
De pescadores
Contrabandistas
Desaparecidos
Em qualquer vaga
Nem eu sei onde.

E eu sou a mesma
Tenho dez anos
Brinco na areia
Empunho os remos...
Canto e sorrio...
A embarcação
Para o mar!
É para o mar!...

E o pobre barco
O barco triste
Cansado e frio
Não se moveu...


Yolanda Morazzo nasceu em 1928 em S. Vicente, Cabo Verde. Pertenceu ao Claridade, movimento de carácter cultural, social e político, cuja revista foi publicada entre 1936 e 1960.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O Vagabundo na Esplanada

O vagabundo, de mãos nos bolsos das calças, vinha, despreocupadamente, avenida abaixo.
Cerca de cinquenta anos, atarracado, magro, tudo nele era limpo, mas velho e cheio de remendos. Sobre a esburacada camisola interior, o casaco, puído nos cotovelos e demasiado grande, caía-lhe dos ombros em largas pregas, que ondulavam atrás das costas ao ritmo lento da passada. Desfiadas nos joelhos, muito curtas, as calças deixavam à mostra as canelas, nuas, finas de osso e nervo, saídas como duas ripas dos sapatos cambados. Caído para a nuca, copa achatada, aba às ondas, o chapéu semelhava uma auréola alvacenta.
Apesar de tudo isso, o rosto largo e anguloso do homem, de onde os olhos azuis-claros irradiavam como que um sorriso de luminosa ironia e compreensivo perdão, erguia-se, intacto e distante, numa serena dignidade.
Era assim, ao que se via, o seu natural comportamento de caminhar pela cidade.
Alheado, mas condescendente, seguia pelo centro do passeio com a distraída segurança de um milionário que obviamente se está nas tintas para quem passa. Não só por educação mas também pelos simples motivo de ter mais e melhor em que pensar.
O que não sucedia aos transeuntes. Os quais, incrédulos ao primeiro relance, se desviavam, oblíquos, da deambulante causa do seu espanto. E à vista do que lhes parecia um homem livre de sujeições, senhor de si próprio em qualquer circunstância e lugar, logo, por contraste, lhes ocorriam todos os problemas, todos os compadrios, todas as obrigações que os enrodilhavam. E sempre submersos de prepotências, sempre humilhados e sempre a fingir que nada disso lhes acontecia.
Num instante, embora se desconhecessem, aliviava-os a unânime má vontade contra quem tão vincadamente os afrontava em plena rua. Pronta, a vingança surgia. Falavam dos sapatos cambados, do fato de remendos, do ridículo chapéu. Consolava-os imaginar os frios, as chuvas e as fomes que o homem havia de sofrer. No entanto alguém disse:
– Devia ser proibido que indivíduos destes andassem pela cidade.
E assim resmungando, se dispersavam, cada um às suas obrigações, aos seus problemas.
Sem dar por tal, o homem seguia adiante.
Junto dos Restauradores, a esplanada atraiu-lhe a atenção. De cabeça inclinada para trás, pálpebras baixas, catou pelos bolsos umas tantas moedas, que pôs na palma da mão. Com o dedo esticado, separou-as, contando-as conscienciosamente. Aguardou o sinal de passagem, e saiu da sombra dos prédios para o sol da tarde quente de Verão.
A meio da esplanada havia uma mesa livre. Com o à-vontade de um frequentador habitual, o homem sentou-se.
Após acomodar-se o melhor que o feitio da cadeira de ferro consentia, tirou os pés dos sapatos, espalmou-os contra a frescura do empedrado, sob o toldo. As rugas abriram-lhe no rosto curtido pelas soalheiras um sorriso de bem-estar.
Mas o fato e os modos da sua chegada haviam despertado nos ocupantes da esplanada, mulheres e homens, uma turbulência de expressões desaprovadoras. Ao desassossego de semelhante atrevimento sucedera a indignação.
Ausente, o homem entregava-se ao prazer de refrescar os pés cansados, quando um inesperado golpe de vento ergueu do chão a folha inteira de um jornal, e enrolou-lha nas canelas. O homem apanhou-a, abriu-a. Estendeu as pernas, cruzou um pé sobre o outro. Céptico, mas curioso, pôs-se a ler.
O facto, de si tão discreto, pareceu constituir a máxima ofensa para os presentes. Franzidos, empertigaram-se, circunvagando os olhos, como se gritassem: "Pois não há um empregado que venha expulsar daqui este tipo!" Nas caras, descompostas pelo desorbitado melindre, havia o que quer que fosse de recalcada, hedionda raiva contra o homem mal vestido e tranquilo, que lia o jornal na esplanada.
Um rapaz aproximou-se. Casaco branco, bandeja sob o braço, muito senhor do seu dever. Mas, ao reparar no rosto do homem, tartamudeou:
– Não pode...
E calou-se. O homem olhava-o com benevolência.
– Disse?
– É reservado o direito de admissão – tornou o rapaz, hesitando. – Está além escrito.
Depois de ler o dístico, o homem, com a placidez de quem, por mera distracção, se dispõe a aprender mais um dos confusos costumes da cidade, perguntou:
– Que direito vem a ser esse?
– Bem... – volveu o empregado. – A gerência não admite... Não podem vir aqui certas pessoas.
– E é a mim que vem dizer isso?
O homem estava deveras surpreendido. Encolhendo os ombros, como quem se presta a um sacrifício, deu uma mirada pelas caras dos circunstantes. O azul-claro dos olhos embaciou-se-lhe.
– Talvez que a gerência tenha razão – concluiu ele, em tom baixo e magoado. – Aqui para nós, também me não parecem lá grande coisa.
O empregado nem podia falar.
Conciliador, já a preparar-se para continuar a leitura do jornal, o homem colocou as moedas sobre a mesa, e pediu, delicadamente:
– Traga-me uma cerveja fresca, se faz favor. E diga à gerência que os deixe ficar. Por mim, não me importo.
Manuel da Fonseca

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Alexandre O'Neill

«Há mar e mar, há ir e voltar»


Esta frase publicitária bem conhecida de todos é da autoria de Alexandre O'Neill.
Nascido em Lisboa em 19 de Dezembro de 1924 e falecido em 21 de Agosto de 1986, Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill de Bulhões, ou simplesmente Alexandre O'Neill, descendente de irlandeses, foi um importante poeta do movimento surrealista em Portugal e um dos fundadores do Grupo Surrealista de Lisboa.
A poesia de Alexandre O'Neill concilia uma atitude de vanguarda com a influência da tradição literária.
Os seus textos caracterizam-se por uma intensa sátira a Portugal e aos portugueses, destruindo a imagem de um proletariado heróico criada pelo neo-realismo, a que contrapõe a vida mesquinha, a dor do quotidiano, vista no entanto sem dramatismos, ironicamente, numa alternância entre a constatação do absurdo da vida e o humor como única forma de se lhe opor. Temas como a solidão, o amor, o sonho, a passagem do tempo ou a morte, conduzem ao medo e/ou à revolta, de que o homem só poderá libertar-se através do humor, contrabalançado por vezes por um tom discretamente sentimental, revelador de um certo desespero perante o marasmo do país . Este humor é, muitas vezes, manifestado numa linguagem que parodia discursos estereotipados, como os discursos oficiais ou publicitários, ou que reflecte a própria organização social, pela integração nela operada do calão, da gíria, de lugares-comuns pequeno-burgueses, de onomatopeias ou de neologismos inventados pelo autor.
Escreveu diversos livros de poesia e publicou dois livros em prosa narrativa, um dos quais de crónicas.
Gravou o disco «Alexandre O'Neill Diz Poemas de Sua Autoria».
Recebeu, em 1982, o Prémio da Associação de Críticos Literários.

Fontes: wikipédia, www.astormentas.com
Há palavras que nos beijam
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

domingo, 17 de agosto de 2008

Escapadinha

Na semana passada fui arejar! Fui à zona Oeste e Costa Vicentina. Vento e nuvens, mas muito verde do campo e muito azul do mar!

Fátima


Foz do Arelho



Lagoa de Óbidos



Óbidos



Cabo Carvoeiro


Torres Vedras

Mafra


Sines


Porto Côvo


Vila Nova de Mil Fontes

Odemira


As fotos fui eu que as tirei e acho que não me saí mal.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Ora cá está ele!...

Numas fotos anteriores sobre a calçada à portuguesa , lá estava ele, sózinho, amarelinho e bonitinho.

Então fui lá visitá-lo!!!

Ora cá está ele há três dias:



terça-feira, 5 de agosto de 2008

Olhão


Depois de um cafézinho pela manhã...



Um passeio pela minha cidade (1)


Desprovida de delicadezas escusadas, Olhão é alegre e amável. Assim como um rosto franco a dizer ao forasteiro: «Esteja à vontade, trate da sua vida, que nós cá andamos a tratar da nossa!»

Manuel da Fonseca

A Rua do Comércio

foto da net

Os Mercados



foto da net


A edificação dos actuais Mercados teve início no dia 5 de Outubro de 1912. Foram inaugurados em 1 de Maio de 1916, Os dois mercados, da fruta e do peixe, são cobertos por um telhado de zinco com quatro águas seguidas de abas orientalizadas, que assenta numa sucessão de vigas transversais em perfilado leve de ferro. Tem portões pretos com a metade superior encaracolada entre os caixilhos. Nos quatro cantos de cada Mercado, elevam-se torreões envidraçados, cilíndricos, de cúpulas metálicas esféricas, com pára-raios espetados nos vértices.

A Marina


O Cais de Embarque para as Ilhas - O "Tê"



O Compromisso Marítimo - Museu da Cidade


O Compromisso Marítimo fundou-se no ano de 1765, mas só em 1771 se inaugura o edifício situado na Praça da Restauração.
É um prédio de dois pisos, de planta irregular com cobertura de quatro águas, de telha. A fachada principal é simétrica de dois corpos sobrepostos, com vãos rectangulares com sacadas de ferro forjado e ao centro uma porta encimada pela capela da Nossa Senhora da Graça. A fachada lateral tem um pórtico de dois arcos emoldurados de cantaria e os vãos laterais são em forma de arco abatido. As portas eram de madeira de cor verde, mas depois de restaurado colocaram portas de vidro.

No ano de 22 de Fevereiro de 1943 o Compromisso Marítimo da ainda Vila de Olhão é transformado na Casa dos Pescadores e, já no século XXI, este edifício foi recuperado e restaurado, criando-se nele o Museu da Cidade, de forma a salvaguardar e divulgar o património cultural do concelho, integrando a sala de despachos, a sala da arqueologia, a sala de exposições temporárias e o núcleo bibliográfico.


A Igreja da Nossa Senhora da Soledade - Igreja Pequena

Em meados do século XVII já estava construída, mas não se sabe quem foi o mestre de obras.

A fachada é preenchida com um frontão decorado com ornamentos de massa, um portal coroado e uma janela encimada por um pequeno frontão. Ainda no exterior pode ver-se uma das características mais significativas desta igreja que é uma grande cúpula, muito simples na sua decoração. É ainda de referir que à entrada da capela existe um poço tapado com uma laje.
A sua estrutura sofreu alterações, principalmente depois do terramoto de 1755 e no ano de 2004 sofreu obras de restauro e preservação.
O interior é de nave única com cinco altares: no altar-mor, está a Senhora da Soledade, e nos laterais, o Senhor dos Aflitos, Santa Clara, Santa Luzia e São Sebastião. Em dois dos altares existem inscrições: no de Santa Clara («Clara! Consolação da Igreja e Glória da Itália, remédio dos povos e admiração do mundo católico!»), e no de São Sebastião («Sebastião, ornamento do quarto século!»).
Hoje já não se fazem orações na Igreja Pequena ou na Igreja dos Mortos, como por vezes os olhanenses a designam, porque é usada como capela fúnebre.


A Igreja Matriz da Nossa Senhora do Rosário


foto da net

Esta igreja situa-se na Praça da Restauração e foi «fundada no reinado de D. Pedro II / Simão Bispo consagrou a Deus/ a primeira pedra a 4 de junho de 1698» como diz a legenda gravada. É uma igreja em estilo barroco e representa o esforço dos homens do mar que o construíram à sua custa, conforme reza a inscrição do cunhal da torre sineira desse templo. Levou dezassete anos a construir e foi aberta ao culto em 1715, antes de concluída.


A particularidade desta igreja é ter na sua traseira uma pequena capela dedicada ao Senhor dos Aflitos. Trata-se de uma capela de fachada centrada, com telhados de quatro águas e janelas com sacadas de ferro forjado. O centro tem um pórtico de três arcos, decorado no interior com azulejos de cor azul e branco, e uma galilé . É enaltecido por um painel de azulejos com o Cristo Crucificado, no exterior. Vê-se da Avenida da República e é resguardada unicamente por uma gradaria de ferro.

É com o sol - e o sol é o xerife sempre presente desta terra que, sem a Nossa Senhora do Rosário, padroeira, íamos dizer sarracena - que é preciso ver Olhão do alto da sua torre. Do moinho do Levante ao «Mundo Novo», onde a telharia fresca de Marselha põe uma barra sanguínea, rola e flameja a alterosa procela de branco. Um zimbório vermelho, que emerge e sobe no ar como balão de arraial, a cúpula da Soledade, incerta se cobre igreja se mesquita, o vão negro das frestas e até o rasgão oblongo das ruas liquefazem-se no dilúvio de alvaiade.

Aquilino Ribeiro

fontes: fotos minhas, www.olhao.web.pt