quinta-feira, 5 de junho de 2008

Dia do Ambiente



Mais outro DIA que deve ser lembrado a cada instante e celebrado até nas mais simples actividades que mecanicamente fazemos todos os dias.
A Terra está doente há muito tempo. O Homem, na senda da evolução e do poder, criou-lhe doenças que não combateu. Industrializou-se e contaminou o ar, os rios, os mares, as águas. Alargou cidades e destruiu florestas. Consumiu-se em modas e desbastou recursos energéticos. Dividiu o mundo em função da riqueza gerada e gerida e criou miséria, fome e guerra.
O antídoto para esta incisiva degradação do meio ambiente passa pela redução drástica dos gases de efeito de estufa e pela ampliação da superfície florestal, acções que devem ser acompanhadas pela utilização de novas tecnologias menos agressivas para o meio, por um menor consumo energético e por um aumento das fontes de energia renováveis; todas elas medidas que deverão ser postas em prática após um decidido compromisso a nível mundial. Mas, além disso, todos nós, cidadãos do mundo, temos de nos comprometer inexoravelmente e de nos envolvermos na solução; temos de alterar os estilos de vida e as normas que os regem, bem como educar os nossos filhos nos novos padrões daí decorrentes. (in National Geographic, Agenda Verde 2008).
Mas a preocupação por este estado de coisas não é de agora. O Homem que não tem poder, o que não governa nem decide, preocupou-se. Recordemos um exemplo entre muitos.

No ano de 1854, o presidente dos Estados Unidos propôs aos índios Duwamish, que habitavam a região onde actualmente se encontra o estado de Washington, comprar grande parte de suas terras, oferecendo, em contrapartida, a concessão de uma outra "reserva". O Chefe Seatle reuniu a tribo no seu meio natural e reflectiu sobre as relações do homem com a Natureza. As suas sábias palavras foram a resposta à proposta presidencial de compra de terra.
Em 1976, a ONU considerou terem sido os mais profundos pronunciamentos já feitos a respeito da defesa do meio ambiente.


Carta do Chefe Seatle


Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e insecto a zumbir são sagrados na memória e experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem a sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos húmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós. O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar a nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou bater das asas de um insecto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos. E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar a nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir. Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um combóio ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos - e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: o nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra é-lhe preciosa, e feri-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejectos.
Mas quando do seu desaparecimento, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam. Onde está o arvoredo? Desapareceu. Onde está a águia? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência.


PLANETA BLUE




Eu sou atlântica dor

planeta no lado do sul

de um planeta que vê

e que é visto azul

Mas essa primeira impressão

esse planeta blue

não é a visão mais real

além de cor, blue é também muito triste

pode ser o lado nu,

o lado pra lá de cru

o lado escuro do azul

Eu sou um homem comum

eu sou um homem do sol

eu sou um african man

um south american man

A fome continental

miséria que o norte traz

a fome que a morte vem

a fome não vem da paz

O ódio que o ódio tem

se espalha bem mais veloz

que a água que a chuva traz

que o grito da nossa voz

Eu sou um homem qualquer

estou querendo saber

se dá pra gente viver

se dá pra sobreviver

Quero saber de coração

se nossa humanidade

e este planeta vão poder prosseguir

Quem sabe a terra segue o seu destino

bola de menino pra sempre azul

Quem sabe o homem mata o lobo homem

e olha o olhar do homem que é seu igual

Quem sabe a festa chega a floresta

e o homem aceita a mata e o animal

Quem sabe a riqueza?

e toda a beleza estará nas mesas da terra do sul

Eu sou atlântica dor

plantada no lado do sul


Milton Nascimento

19 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Oportuno e importante este escrito de hoje.

A carta do chefe índio diz bem da diferença entre quem vive COM a Natureza e quem a observa e goza dos seus prazeres mas com quem ela não tem uma relação íntima e umbilical.
Magnífica lição de ecologia e de amor à Natureza.

Um abraço.
Jorge P.G.

Evasões disse...

No dia Mundial do Ambiente reflictamos sobre o património natural a preservar. Para bem de todos.
Um escrito com todo o sentido. Hoje e sempre. Pertinente.

bjos

o escriba disse...

Jorge

As palavras deste homem sábio, que reconhece ser selvagem perante o homem branco e os seus incompreensíveis costumes,sempre me comoveram pela sua relação intensa com a Natureza e a compreensão da sua importância na sobrevivência do Homem. Acima de tudo ele dá o significado profundo à palavra Respeito.

Um abraço
Esperança

o escriba disse...

Mia

As preocupações deste homem e os conselhos que ele dá às gerações vindouras são mais significativas do que as conferências que os homens poderosos fazem. Reflectir é bom mas agir ainda é melhor.

bjs
Esperança

Zé Povinho disse...

Apesar dos avanços científicos e tecnológicos que se foram alcançando, a ambição toldou muitos espíritos e descurou-se aquilo que verdadeiramente suporta toda a vida, O PLANETA.
Abraço do Zé, que gostou deste espaço bem estruturado e empenhado.

lagartinha disse...

Caros Sócios:
Uma vez que esta página é para todos, penso que um dos benefícios devia ser o de poderem também publicar qualquer coisa aqui...
Assim, quem estiver interessado, faça o favor de indicar o e-mail para que o mesmo seja adicionado nas permissões de publicação.
Ana (Lagartinha Dot Com)
Clube de Bloguistas Portugueses

Papoila disse...

Esta carta do chefe ìndio é uma maravilha! Uma carta de quem compreende e Ama a Natureza.
Beijo

o escriba disse...

Zé Povinho

Obrigada pela visita e pelas palavras simpáticas!
Mande sempre!


Um abraço
Esperança

o escriba disse...

Ana

Fica registado o pedido.
O meu e-mail já está no perfil.

bjs
Esperança

o escriba disse...

Papoila

Obrigada pela visita e ainda bem que gostou.

bjs
Esperança

vieira calado disse...

Dei uma volta pelo blog e gostei do que aqui vi.
O que não gosto é de ver imagens na TV sobre o que se vai passando por esse mundo fora.
São uma tristeza no que respeita a ambiente e condições sub-humanas de vida, em vários países.
Cumprimentos

Jorge P. Guedes disse...

Hoje deixo-lhe umaskisg simples abraço.

Jorge P. Guedes disse...

Ficou a palavra de verificação no comentário. rrssss...

Dizia eu que hoje lhe deixo um simples abraço.

Evasões disse...

uma carta maravilhosa.Grande chefe índio.

bjos

o escriba disse...

Vieira Calado

é por ver essas imagens na TV que acho importante que se espalhe a palavra sobre o que se pode e deve fazer em favor de um planeta que caminha para a destruição.
Obrigada pela visita.

Um abraço
Esperança

o escriba disse...

Jorge

Com ou sem enganos do tal de verificador, a sua visita é rempre registada com agrado.
Obrigada pelo seu abraço e pelo seu acolhimento!

Um abraço
Esperança

o escriba disse...

Mia

Obrigada por ter gostado.


bjs
Esperança

Isamar disse...

Escriba Esperança

Uma carta comovente a do chefe índio e muito bem escolhida para evocar o dia do Ambiente.
Passo por aqui com frequência e lamento não ter deixado comentário nesse dia pelo que venho redimir-me da falta cometida.

Desculpa, conterrânea algarvia.


Beijinhos

o escriba disse...

Isabel

Ora essa, querida amiga!
Não te "vi" mas "senti" que passaste!

Bjs
Esperança