sábado, 3 de maio de 2008

Os Amigos

E agora um miminho para os meus amigos que nasceram e viveram em terras de África: um excerto das letras bem somadas de um escritor que admiro, e que vem a propósito, também, deste mês de Maio.
Estava a cheirosa tarde de fim-de-chuvas, mês de novenas de Maio e nesse ano da graça de vinte e tal o calor mangonhava tempo adiante, cacimbo quase, e o quente da terra subia no ar cheio de húmido. Cheirava a mar, peixe se apodrecia na praia, tudo juntava-se no acre sentir da crueira cartada nos armazéns perto. Monangambas vinham com suas lengalengas de trabalho, repetiam, viravam mais forte no cheiro que tapava tudo. As moscas preguiçavam suas asas nos voos de lento, zumbidos. O ácido cheirar do azeite-palma fugia nos barris e tambores espalhados, se misturava todo ele nos pequenos soprares dum vento camuelo. Batida no sol da tarde, a Baía tremulava baça e morna.

Luandino Vieira, Velhas Estórias

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