sábado, 3 de maio de 2008

Descontentamento

Desde que abri aqui o estaminé ainda não tinha falado em descontentamento. Vou inaugurar hoje.
Não gosto muito da palavra descontentamento. Tem muitos tês, é comprida e áspera. Prefiro desagrado, desencanto ou, se me fosse permitido inventar palavras, desalegria. Mas cá vai.
No feriado fui fazer umas fotografias à minha cidade. Não me canso das ruas estreitinhas, da calçada irregular, da ria. Cansei-me foi de ver o estado em que está qualquer pedaço de parede clara, qualquer porta fechada, qualquer fachada, ou até meios de transporte. Graffitis? Não sei se são. Os graffitis são arte quando há mensagem, compreendida por todos e estética visual. Mas o que eu vejo são borrões importados de outras culturas, cujos autores duvido que saibam qual a pata direita do cavalo de D.José. Provavelmente haverá em outras localidades. Aqui na minha cidade a coisa é abusiva. Mas o meu espanto é ainda maior quando vejo alguns autores actuarem à vista de todos, com a calma própria de quem para tal está autorizado. Estarão? Não sei. Só sei que a mim ninguém me pediu autorização para "ilustrar" uma parede que suporta um dos acessos ao local onde moro. Quando se olha, não se entendem os elementos. Visualmente é aberrante. Dá um aspecto decadente e degradado. Se calhar, o contrário do pretendido. Tanta coisa que na minha cidade é alvo de fiscalização menos esta que, pelos vistos, não fere ninguém.
Estou descontente. Há inércia e muito "laissez faire, laissez passer". Qualquer dia, a"vila cubista" não será mais que uma designação que para se saber o que significa tem de se fazer uma pesquisa aturada na Torre do Tombo.

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