sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril

Hoje foi feriado. Digo "foi" porque daqui a mais uma hora mais coisa menos coisa já não é. Hoje foi 25 de Abril. Digo "foi" porque o ideal é passado, porque a liberdade mudou de forma, porque o que se esperou não "chegou a chegar". O dia da revolução não passa hoje de um conjunto de discursos.
Estou a escrever e a ouvir na tv as palavras musicadas de uma época de luta, de finca-pé e de esperança. A alma renova-se mas ai que os olhos resistem a um riacho salgado que quer furar por entre recordações de músicas ouvidas às escondidas, de letras aprendidas e escritas em papéis rasconsos, dissimulados dentro dos livros do liceu. "Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar", "Canta, canta como uma ave ou um rio, dá o teu braço aos que querem sonhar", "Ei-los que partem , novos e velhos, coração triste", "A cantiga é uma arma, eu não sabia", "Pare, escute e olhe, não hesite em avançar", "Só assim será poema, só assim terá razão, só assim te vale a pena, passá-lo de mão em mão". Lembro as palavras de meu pai que, embora pouco ou nada politizado, dizia "isto tem que mudar! Tem que haver gente nova a mandar nisto!". Dou comigo a pensar, no presente, quase na mesma coisa. Houve erros que não se emendaram, promessas que não foram cumpridas, interesses que se sobrepuseram. Dou comigo a pensar se sou mesmo livre.
Tanto que eu gostaria de não viver só de recordações! Tanto que eu gostaria que esta praia tivesse sido alcançada por um mar diferente, um mar sem "simplexes", sem normativos made in outra parte, sem novas oportunidades com nome, sem elos enfraquecidos.
Mas no saldo destes trinta e quatro feriados, dos discursos floriados e absurdos, dos vinte e cinco de abril de cada ano, dou comigo a pensar que não me calo e que não vou deixar passar este riacho que teima em esgueirar-se pelos meus olhos.

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